#11 Digital Futures Lab — Diversidade
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Fala minhas lindezas climáticas, bele?
Chegamos na décima primeira aula do Digital Future Lab, o programa de letramento em futuros criado pelo FA.VELA, Futuros Inclusivos e UK Brazil Tech Hub, braço da embaixada do Reino Unido responsável por apoiar o desenvolvimento da tecnologia no Brasil.
Nossa segunda aula foi facilitada por duas rainhas ahazadoras, a Lana Marx e Isadora Nascimento:
Lana é uma travesti jovem mulher preta, formada em geografia pela PUC Minas e palestrante do projeto EQUI — Empregabilidade Trans Office Experience na Thoughtworks Brasil. Ela começou a facilitação com a seguinte pergunta:
“Diversidade, equidade e inclusão. Por que importam?”
Para responder, investigamos três lugares:
- Conceitos de diversidade, equidade e inclusão;
- A fábula da meritocracia;
- Narrativas de identidades no Século XXI.
Somos uma espécie com 7 bilhões de pessoas DIVERSAS. Apesar de todas as conquistas tecnológicas, muitas pessoas ainda enfrentam desafios no que diz respeito às possibilidades de acesso. Todos nós fazemos parte da diversidade humana, mas alguns encontram desafios por conta do padrão de diversidade que apresentam.
E é aquela coisa né, apesar da diversidade existir na humanidade, algumas pessoas vão ser priorizadas dentro do acordo social devido às condições físicas que elas apresentam.
Eu amei quando a Lana compartilhou essa imagem porque achei ela muito auto explicativa. Veja bem, a floresta tropical tem diversos elementos e espécies, sendo que todas as espécies se complementam de alguma forma, fazendo com que a floresta se auto-alimente.
Já a monocultura é o lugar da singularidade, onde tudo é igual e onde só uma espécie é valorizada… Esse sistema de produção pode até dar resultados rápidos, mas não é sustentável e muito menos regenerativo. Hoje temos que lidar com váriasssssss questões climáticas e ambientais por causa desse estilo de produção.
Da mesma forma, podemos trazer essa reflexão para o campo da diversidade, especialmente nos conceitos de inclusão e equidade. Veja os quadros abaixo:
Inclusão: é possibilitar que sujeitos diversos ocupem e participem nos espaços sociais.
Equidade: traz a reflexão de que pessoas diferentes precisam de abordagens distintas.
Esse é o ponto que as empresas têm mais dificuldade! Não dá para fomentar a meritocracia, ou seja, uma disputa igualitária, se partimos de processos desiguais.
Se você não pertence a esse universo e nem faz parte de nenhum grupo minoritário, talvez todo esse debate pareça um pouco intangível… Calma, respira e não pira rs Vou trazer um exemplo para facilitar a sua compreensão:
“Pense numa mulher que faz jornada dupla ou tripla de trabalho: ela trabalha fora, cuida da casa e tem a missão de educar os filhos. Você acha que essa mana terá uma disputa igualitária com alguém que só precisa se preocupar com o trabalho formal?”
A fábula da meritocracia
De acordo com Daniel Markovits (1960), professor da faculdade de Yellow Spring nos EUA, a meritocracia promete promover a igualdade e a oportunidade dando acesso à elite — no passado hereditária — a pessoas comuns, munidas apenas de talento e ambição. Promete, ainda, compatibilizar as vantagens privadas com o interesse público, ao reafirmar que riqueza e status devem ser obtidos por conquista. Juntos, esses ideais pretendem unir a sociedade em torno de uma visão comum de trabalho árduo, competência e merecida recompensa.
Essa ideia de que apenas esforço, determinação e força de vontade bastam para a gente chegar lá pode até parecer sedutora, né?
Mas dentro de uma sociedade capitalista, temos algumas competências e profissões que foram favorecidas em relação às outras. Enquanto um analista de investimentos é valorizado pela quantidade de horas que passa no escritório, uma doméstica será chamada de lerda se demorar muito para cumprir suas funções.
Novas narrativas são possíveis
Às vezes quando a gente se depara com esse tipo de conteúdo, pode bater uma bad vibe que nos deixa para baixo… Mas esse debate está avançando, não na velocidade que gostaríamos, mas está rolando! Olha os exemplos que a Lana compartilhou:
- A partir dos anos 2000, a internet propicia maior “democratização de conteúdos” para quem podia ter acesso.
- Há maiores possibilidades de compartilhamento de ideais que antes ficariam restritos a pequenos grupos.
- Houve um fortalecimento do que hoje chamamos de “bolhas virtuais”, as quais facilitam mobilizações e discussões que antes eram restritas aos espaços políticos ou acadêmicos.
- Movimento intenso dos nativos digitais (parte dos millennials e geração Z) no compartilhamento de ideias, opiniões e reforço das questões identitárias.
Tem dúvidas disso? Olha só nossa mudança de vocabulário:
“Mudar exige coragem. A coragem exige uma ação. A ação constrói futuros com base na utopia!” (lana Marx)
O sistema em qual vivemos, isto é, o sistema capitalista branco e hegemônico, está nos levando rumo a destruição do planeta… Como mulher preta, eu desejo um futuro onde a diversidade não será encarada apenas como lucro para empresa, mas sim vista como um princípio de transformação coletiva!
Minha cabeça já estava borbulhando com a facilitação da Lana, quando a Isa assumiu foi tipo 🤯
A Isa é mineira, mulher negra e pessoa com deficiência visual (baixa visão congênita). Advogada e pós-graduanda em Cidadania e Direitos Humanos no Contexto de Políticas Públicas e em Advocacia Feminista e direitos da mulher.
Na sua facilitação, fizemos uma Imersão em diversidade sob a perspectiva da deficiência, pensamos nas barreiras que impedem a inclusão de corpos “fora dos padrões”, aprofundamos o conceito de interseccionalidade e refletimos sobre os caminhos possíveis para criar um futuro mais acessível.
Precisamos ampliar o debate sobre Pessoas com Deficiência (PCDs). De acordo com o IBGE, em 2010 tínhamos cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência, isto significa quase 25% da população brasileira. E os maiores percentuais de PCDs foram encontrados entre os brasileiros que se declaram pretos ou amarelos: nesse grupo, quase 3 em cada 10 apresentam algum tipo de deficiência.
A história das pessoas com deficiência passa por um lugar de luta pela sobrevivência, resistindo ao extermínio, segregação, assistencialismo, exclusão, patologização, preconceito e apagamento das conquistas.
“Quem conta nossa história? A gente não tem muitos registros, a nossa história foi apagada!” (Isadora Nascimento)
Vale lembrar que quanto maior o cenário de vulnerabilidade social (moradias precárias, bairros sem infraestrutura, educação limitada e de má qualidade, serviços de saúde quase inexistentes, péssimas condições de trabalho), maior é a violência.
Todas as formas de descriminação devem ser encaradas como uma questão a ser resolvida de forma coletiva. Dentro desse processo, uma possibilidade de caminho para entender essas múltiplas discriminações é a interseccionalidade.
- Interseccionalidade: O termo interseccionalidade é um conceito sociológico preocupado com as interações e marcadores sociais nas vidas das minorias. Através dele é possível enxergar que em nossa sociedade existem vários sistemas de opressão — as de raça ou etnia, classe social, capacidade física, localização geográfica, entre outras-, que relacionam-se entre si, se sobrepõem e demonstram que o racismo, o sexismo e as estruturas patriarcais são inseparáveis e tendem a discriminar e excluir indivíduos ou grupos de diferentes formas. (Politize, 2020)
A diversidade precisa ser analisada a partir de uma perspectiva multi-inclusiva, plural, com estratégias coerentes para lutar contra as armas de manutenção de preconceitos e opressões, como o capacitismo.
Exemplos de frases capacitistas:
- “Fulano deu uma de João sem braço.”
- “Estou mais perdido que cego em tiroteio.”
- “Pior cego é aquele que não quer ver.”
- “Em terra de cego, quem tem olho é rei.”
- “Fingindo demência.”
- “Você é um exemplo de superação.”
- “Você nasceu assim?”
- “Toda vez que penso em reclamar da vida lembro de você. Obrigado!”
- De longe nem parece que você é deficiente!
Um bom passo para adotar uma postura anti capacitista é excluindo essas expressões do seu vocabulário. Mas não pode parar por aí, também é necessário entender que deficiência não é um problema, perguntar antes de tirar as suas próprias conclusões, parar de normalizar a falta de acessibilidade e reconhecer que talvez você seja uma pessoa capacitista, pois somente assim será possível mudar.
É através do diálogo, conhecimento, interesse, escuta e representatividade que um futuro mais inclusivo poderá ser criado :)
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Amanda Costa é ativista climática, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no G20 Youth Summit e fundou o Instituto Perifa Sustentável. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, LinkedIn Top Voices e Creator, TEDx Speaker e atua como vice-curadora no Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.