#07 Digital Futures Lab — Territórios
Oi minha lindeza climática, turopommm? :)
Finalmente iniciamos a fase de masterclass, onde teremos encontro com especialistas para aprofundar temas essenciais para o debate de futuros.
A primeira masterclass teve duas partes, sendo guiada por Isabela Oliveira, Doutora e Mestre em Geografia, e Fábio Moraes, Especialista em Urbanismo Social, que trouxeram diferentes perspectivas do conceito de Território.
A Isa começou a aula explicando a perspectiva do Milton Santos sobre Territórios, que se divide em três vertentes:
- Política: é dimensão concreta, política, que envolve relações de poder. Aqui o Território está ligado à conquista, com a noção de fronteiras e limites.
- Cultural: dimensão simbólica, onde determinado grupo de pessoas de apropria do Território, não necessariamente delimitando fronteiras ou limites concretos;
- Econômica: aqui está a divisão territorial do trabalho, que aborda a dimensão material.
“Essas três vertentes são complementares, estão interligadas e não podem ser analisadas de forma isolada.” (Isabela Oliveira)
Agora bora falar de conceitos? :)
Território e Identidade
O território desempenha um papel central na estruturação das identidades. Ele constitui a base material da existência comum e fornece parte dos recursos indispensáveis à existência de cada um de nós. Os territórios afirmam a identidade e o pertencimento de um grupo ou de um indivíduo, a partir dos lugares, definindo-se aí as territorialidades.
Quando a identidade se relaciona com o território, ela deixa traços para determinado indivíduo ou determinado grupo. Ela está ligada a laços de origem, como o mito fundador, antepassados comuns, solo natal, tradição, entre outros.
Territorialidade
Pode ser definida como a junção de atitudes ligadas ao enraizamento e a viagem, englobando de forma simultânea o fixo e o móvel ou os lugares itinerários. Desse modo, a territorialidade é compreendida pela relação social e cultural que determinado grupo mantém com a trama de lugares e itinerários, constituindo seu território do que pela apropriação biológica e de fronteiras.
Quando pensamos no contexto de identidade, pensamos automaticamente no conceito de lugar: o território a partir de identidades expressas faz com que o espaço se torne um lugar de pertencimento, afetividade, acolhimento.
Desterritorialização e Reterritorialização
Essas são algumas ramificações do conceito de território. A desterritorialização envolve a perda do espaço, já a reterritorialização envolve a territorialização do lugar por parte de um grupo ou indivíduo. No momento que um indivíduo ou grupo perde um espaço, ele territorializa um novo.
- Territorialização: consiste no processo de ocupar/habitar um território de maneira individual e/ou coletiva. Organizando-se socialmente, construindo redes e ordenamento para sua convivência.
- Desterritorialização: quebra de vínculos, uma perda de território, um afastamento dos nossos territórios, havendo assim, uma perda de controle das territorialidades pessoais ou coletivas. Ex: migração de refúgio, êxodo urbano.
- Reterritorialização: processo complexo de mudança do indivíduo em se adaptar a novos territórios, afetando, principalmente, pessoas em condição de vulnerabilidade e demandando muita cooperação da população local.
“A vida é um constante movimento de desterritorialização e reterritorialização, ou seja, estamos sempre passando de um território para o outro, abandonando territórios, fundando outros.” (Haesbaert)
Multiterritorialidade ou Múltiplas Territorialidades
No caso de um indivíduo e/ou um grupo social mais coeso, pode-se dizer que eles constroem seus (multi)territórios integrando sua experiência cultural, econômica e política em relação ao espaço. Esta multiplicidade e/ou diversidade territorial em termos de dimensões sociais, dinâmicas (ritmos) e escalas, resulta na justaposição ou convivência, lado a lado, de tipos territoriais distintos.
Diáspora
A diáspora traz em si a ideia de deslocamento forçado, como na condição de escravizado, guerras, perseguições políticas, religiosas ou desastres naturais. Também pode ser uma dispersão incentivada ou espontânea de grandes massas populacionais em busca de trabalho ou melhores condições de vida.
Diáspora Negra e Territórios
O continente africano é caracterizado por esses grandes movimentos demográficos. A primeira diáspora corresponde ao processo espacial milenar de povoamento e ocupação do próprio continente e, posteriormente, para outras terras emersas do mundo. Nesse sentido, o Tráfico Negreiro para a América do Sul foi um longo período de migração forçada, sendo um contexto impulsionador do sistema escravista e base do capitalismo primitivo.
Diáspora Negra e Reterritorialização
Onde existe desterritorialização, há também reterritorialização, pois na medida em que alguns povos chegam à outra terra, caracteriza-se assim, territorialidade sem território (Haesbart, 2004), ou seja, a assimilação de novos espaços ou a formação destes através dos que ali habitam com seus costumes, histórias e hábitos.
Do ponto de vista historiográfico das diáspotas africanas, a reterritorialização aconteceu de forma dolorsa e trágica, principalmente por causa das imposições inseridas nas vidas dos negros, sem a mínima autonomia sobre si.
“As pessoas negras vindas da África criaram uma territorialidade sem território.” (Isabela Oliveira)
Curiosidade: um local massa para conhecer a cultura africana é o canal do youtube África do jeito que nunca viu.
Vemkbb, você já parou para pensar…
- Como são estruturados os territórios?
- Onde estão os lixões?
- Qual tem acesso ao transporte?
- Quais são os espaços determinados para uma pessoa ou outra?
- Onde estão as pessoas mais atingidas pelas tragédias ambientais?
Temos uma política global de constituição de territórios, fundamentadas no contexto de dominação. E agora eu te pergunto, caro leitor:
- Como podemos pensar em alternativas?
“Precisamos encontrar novas territorialidades que sejam anárquicas ao território dominante que está posto.” (Isabela Oliveira)
“O território é o lugar que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem (indivíduo) se realiza a partir das manifestações de sua existência.” (Milton Santos)
A segunda parte do encontro foi facilitada por Fábio Moraes, que trouxe a perspectiva de que a construção de territórios partiu do homem branco com o intuito de fortalecer a estrutura de poder e dominação, mantendo uma visão eurocêntrica, seguindo a lógica da branquitude e ampliando as desigualdades sociais, econômicas e ambientais de forma desenfreada.
Dimensões da cidade como território
A cidade é um território urbano, contíguo, dotado de força política, econômica, cultural, social e ambiental. Sua multiplicidade a torna diversa, mas também MUITO desigual.
Desse modo, precisamos pensar em como construir futuros inclusivos para as cidades, considerando toda a sua multiplicidade e trazendo um olhar multidimensional.
A real é que o avanço tecnológico estabeleceu abismos territoriais, gerando o processo de desterritorialização e reterritorialização nas metrópoles. Onde, os mais pobres, foram jogados às margens nas periferias e favelas, fomentando ainda mais as desigualdades.
“Precisamos pensar nos problemas presentes para construir soluções para o futuro.” (Fabio Moraes)
“É pelo mito que se alcança o passado, se interpreta o presente e se prediz o(s) futuro(s).” (tradição Yorubá)
Não podemos simplesmente aceitar a realidade imposta. É importantíssimo pensar em novos modelos econômicos e em agendas regenerativas que vão cuidar tanto do nosso planeta quanto da própria população!
Em maio de 2019, a economista Kate Raworth lançou o conceito Economia Donut com seu livro Economia Donut: 7 maneiras de pensar como um economista do séc XXI que estabelecia limites planetários na concepção de um novo modelo de desenvolvimento.
No ano seguinte, em 2020, a cidade de Amsterdã ganhou fama internacional ao decidir adotar a “Teoria da Rosquinha” para fundamentar a reconstrução econômica pós-pandemia.
“(…) O donut em si é um compasso para o progresso humano. Parece uma rosquinha, e a parte de dentro é onde as pessoas caem quando ficam sem casa, dinheiro, água e alimentação. O objetivo é que todos fiquem em cima do donut, mas sem aumentar demais a pressão do planeta.” (Kate Raworth)
Caro leitor, nosso mundo precisa de pessoas ousadas, as quais não terão medo de pensar no futuro. Já dizia Milton Santos: “o mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir.” (Milton Santos)
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Amanda Costa é ativista climática, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no G20 Youth Summit e fundou o Instituto Perifa Sustentável. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, LinkedIn Top Voices e Creator, TEDx Speaker e atua como vice-curadora no Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.