Como me tornei jovem embaixadora da ONU

Amanda da Cruz Costa
8 min readDec 27, 2020

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Olá minhas hortinhas orgânicas! Como vocês estão?

Meu nome é Amanda, sou internacionalista e quero compartilhar como me tornei Jovem Embaixadora da ONU!

Decidi escrever esse texto porque recebo muuuuitas mensagens de jovens que sonham em trabalhar na ONU, mas não sabem como dar o primeiro passo. Espero que a minha história possa inspirá-los e mostrar uma nova possibilidade de caminho =)

Let’s booora?

Essa história começa láaaa atrás, em 2015, quando fiz um intercâmbio para trabalhar como Camp Counselor (Monitora de acampamento), no YMCA Camp Marston. Nesta viagem, fiz amizade com pessoas de diversas nacionalidades e tive a certeza que queria esse tipo de experiência para a minha vida: viajar pelo mundo, experimentar comidas locais, ter amigos gryngos, conhecer culturas diferentes…

[Saiba mais sobre meu intercâmbio neste link.]

Voltei para o Brasil e me matriculei no curso de Relações Internacionais na Anhembi Morumbi, no começo de 2016. Logo na primeira semana de aula, entendi que a língua inglesa não era um diferencial na carreira do internacionalista, mas uma habilidade básica.

Comecei a trabalhar como jovem aprendiz na Gusmão e Labrunie — Propriedade Intelectual, decidi fazer aulas de espanhol e guardar parte da minha renda para um futuro intercâmbio.

Eu utilizava tooooodo o dinheiro do Vale Refeição para investir na minha viagem. Caro leitor, você acredita que juntei R$6000? (Teve vezes que precisei comer marmita gelada, mas eu sempre pensava na recompensa! heheh)

Fui para a Espanha e trabalhei como professora de inglês num acampamento bilíngue da YMCA Zaragoza. Foi uma das experiências mais desafiadoras que vivi! A dificuldade da língua, a cultura do trabalho, as poucas pausas para descanso…

Mas valeu suuuuper a pena, o lugar era incrível! Conheci montanhas, lagos, cachoeiras, noites estreladas, monitores e campers incríveis ❤

Quando voltei, fui agradecer o Paulinho, o responsável pelo departamento internacional da ACM. Levei algumas lembrancinhas e contei as aventuras da viagem. Paulinho ouviu atentamente e disse:

Amandinha, gostaria que mais jovens da ACM experimentassem esse tipo de experiência… Infelizmente a galera não está tão engajada na parte internacional.

Eu respondi:

Poxa, que triste saber disso… Mas eu estou, pode contar comigo! Quando tiver um intercâmbio mara, me avisa?

E não é que tinha? A Word YMCA estava selecionando jovens de diversos países para compor uma delegação internacional para a COP 23, conferência da ONU que reúne chefes de estados, líderes corporativos e sociedade civil com o intuito de frear as mudanças climáticas.

Eu não tinha grana para outra viagem, mas o Paulinho e eu demos um jeito! Ganhei a passagem da Dona Lídia, uma das sócias da ACM, o Paulinho conseguiu 50% de bolsa para o programa e vendi vários bijus que comprei na 25 de Março.

Me senti “a empreendedora”, foi superação pura! No dia 05 de novembro embarquei para a Alemanha e realizei meu grande sonho: participar de uma conferência da ONU!

Nesta conferência conheci o pessu do Engajamundo e fiquei encantada pela visão da organização:

  • Por meio de formações, mobilização, participação e advocacy, nos dedicamos a empoderar a juventude brasileira para compreender, participar e incidir em processos políticos, do local ao internacional. Temos como visão uma juventude brasileira consciente do seu impacto socioambiental, engajada em processos de decisão locais, nacionais e internacionais, possibilitando melhores decisões políticas.

Quando voltei para o Brasil, a primeira coisa que fiz foi entrar no Engaja! Também comecei a trabalhar como estagiária de projetos estratégicos da Omron Brasil, uma multinacional japonesa sobre internet das coisas, inteligência artificial e robótica.

Me vi numa correria louca: acordava às 5h da manhã e ia dormir 12h! De manhã ia para a facu, à tarde pegava um buzão para o estágio e à noite participava das reuniões do Grupo de Trabalho sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (GT ODS) do Engaja.

Apesar de amaaar essa vida maluca, meu corpo pedia descanso!

Em maio de 2018 rompi o ligamento do joelho direito e tive que operar :( Fiquei 4 meses afastada do trabalho e utilizei esse tempo para participar das reuniões online do Engaja. Nesse tempo, surgiu uma vaga para ocupar a posição de coordenadora do GT ODS e eu agarrei! Em dezembro do mesmo ano, viajei para a Polônia com o pessu do GT Clima para participar da COP 24.

Voltei para o Brasil certa de que queria trabalhar por um propósito! Nossa vida é maravilhosa demais para não fazermos o que amamos, certo?

Apesar dos perrengues (uma organização de xôfens tem muuuuitos perrengues e tretas) eu amava a galera do Engaja! Só que eu pensava que tudo o que vivíamos (ir para conferências internacionais, influenciar tomadores de decisão, mobilizar a juventude para ações de ativismo) fazia parte de um “conto de fadas” e em determinado momento eu teria que “acordar e viver no mundo real”.

Mas o que é o mundo real?

Em fevereiro de 2019 fui convidada para participar de uma imersão que mudou a minha vida: o Agile Learning Facilitators (ALF)! No ALF eu conheci um pessu maravilhoso que estava contestando a lógica heteronormativa e criando trabalhos com propósito, relacionados com a aprendizagem autodirigida.

Minha cabeça pirou!

Para somar com essa experiência, participei de uma imersão do Engaja e me descobri enquanto mulher preta e periférica. As escamas do embranquecimento racial caíram dos meus olhos e passei a ver racismo em todos os lugares! Percebi que era a única preta da minha sala de aula da faculdade e uma das únicas pretas da empresa em que eu trabalhava…

Essa contestação machucou as entranhas da minha alma!

Conversei com meus pais e decidi pedir demissão. O plano era dedicar meu último ano da facu para estudar e fazer trabalho voluntário, com o intuito de investigar assuntos complexos e me tornar uma referência na minha área de estudo: crise climática, sustentabilidade e negritude.

Com mais tempo disponível, ganhei liberdade, autonomia e energia para investir em projetos que queimavam em meu coração. Me inscrevi no processo seletivo do Global Shapers Community (rede de jovens do Fórum Econômico Mundial) e passei! Me conectei com muita gente F*DA e fui levada para outra dimensão.

Você já escutou a frase “somos a média das 5 pessoas com quem mais convivemos”? Eu vivi isso na pele!!!

Por conta dos Shapers, passei a ter acesso a muitas oportunidades, como intercâmbios, vagas de emprego e editais que rolavam em nosso grupo de Whatsapp. Uma dessas oportunidades foi divulgada pela Aninha, que compartilhou um edital do United People Global: uma comunidade global que tem o propósito de “tornar o mundo um lugar melhor”.

Me inscrevi e fui selecionada!! Viajei para os EUA (eles pagaram tuuuudin) e desenvolvi meu projeto, o PerifaSustentavel, que tem a missão de democratizar a Agenda 2030 para as periferias de São Paulo. Contei a experiência com detalhes neste texto e neste vídeo, depois dá uma olhadinha!

Após voltar da viagem, foquei total em escrever meu TCC, conectando meu conhecimento empírico com o meu conhecimento acadêmico. Apresentei para a banca e tirei 10 :D

E aí, chegamos em 2020! Eu, como boa internacionalista que sou, sonhava em fazer intercâmbio. Conversei com a galera da AIESEC e decidimos pelo Global Talent, um trainee internacional com duração de 1 ano o/

Fiz algumas entrevistas e fui escolhida pela Tata Consultancy, uma empresa de tecnologia localizada no sul da Índia, em Bangalore. Tudo estava certo e na próxima semana eu iria receber um email com informações para tirar o visto.

Contudo, recebi outro email…

Quando eu percebi que o trainee internacional não ia rolar eu chorei horrores! Fiquei suuuuper chateada por que:

  • Meu sonho foi adiado;
  • Não sabia se teria outra oportunidade como essa;
  • Me senti um cocozinho: estava triste por que perdi o intercâmbio enquanto PESSOAS ESTAVAM MORRENDO!

Não podemos controlar as coisas que acontecem conosco, mas podemos controlar a maneira que reajimos com as coisas que acontecem conosco!

Meu mundo caiu e precisei me reinventar. Marquei cafés virtuais com pessoas que eu admiro ou que estavam trabalhando em lugares que eu gostaria de trabalhar para definir meus próximos passos.

Num desses cafés, conversei com a Clarissa, Head de Marketing do Youth Climate Leaders (YCL). Tivemos um super match e ela me chamou para ser mobilizadora de redes do YCL.

Queridos, resolvi compartilhar a minha vida pois acredito que toda a minha trajetória e envolvimento com causas socioambientais foram importantes para ser escolhida como Embaixadora da Juventude da ONU, em agosto de 2020.

Esse programa é uma iniciativa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, o Instituto Caixa Seguradora e a Secretária Municipal de Direitos Humanos do Estado de São Paulo (SMDHSP), que selecionou jovens agentes de transformação para atuarem como multiplicadores dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Além de uma formação super babadeira sobre a Agenda 2030 da ONU, todos os participantes passaram a integrar a rede de jovens da UNODC, sendo inseridos em espaços de diálogo e de tomada de decisão, tanto a nível local, quanto a nível internacional.

[Escrevi uma série com 11 artigos no meu blog contando sobre o Programa Embaixadores da Juventude e um conjunto de reflexões sobre a Agenda 2030 na Agência Jovem de Notícias.]

Lindezas, deem liberdade para os jovens sonharem! Eu sou uma mulher preta, moro na periferia da zona norte e optei por quebrar as minhas barreiras e crenças limitantes para empreender os meus objetivos. Mas não teria feito nada disso se meus pais não acreditassem nas minhas maluquices.

[Imagina contar para seus pais que quer pedir demissão de uma multinacional japonesa para fazer trabalho voluntário??? rsrs]

“A verdade sempre será aquilo que escolhemos acreditar!”

Eu tenho certeza que 2021 será maravilhoso, porque NÓS vamos nos posicionar para criar uma realidade magnífica!

Que se levantem as vozes que o medo tentou calar. Bora lacrar juntos?

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Ecofeminista antirracista atuante em temas globais. Formada em Relações Internacionais, Amanda empreende o PerifaSustentavel, é colunista da Agência Jovem de Notícias e atua como mobilizadora de redes do Youth Climate Leaders. Entusiasta pela Agenda 2030, tem o objetivo de mobilizar jovens para construírem um Brasil inclusivo, colaborativo e sustentável, através das redes Embaixadores da Juventude da ONU, Engajamundo, Climate Reality Project, Global Shapers Community e United People Global.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável