Carta para um homem preto
Oi pretinho,
Meu nome é Amanda Costa e sou uma jovem mulher preta que decidiu experimentar e está se descobrindo.
Descobri há poucos anos que sou bela, divertida e gostosa. A sociedade de supremacia branca adora fazer isso com a gente né, primeiro inundam a nossa infância com referências brancas (confesso que já quis ser uma paquita da Xuxa), nos fazem odiar a nossa cor, nossos traços e nosso cabelo para depois nos contarem que somos bonitos.
Mas isso é furada, cuidado.
É apenas mais uma estratégia para dominar os nossos corpos.
Enquanto mulher preta, aprendi que vão hipersexualizar a minha juventude para depois invisibilizar a minha maturidade e experiências.
É complexo, eu tô ligada.
Mas nessa carta, quero falar sobre o impacto que vocês, homens pretos, causam sobre mim.
Bom, vamos começar da infância.
Eu cresci almejando um príncipe da Disney. Sonhava com um homem branco, loiro de olhos azuis, musculoso e viril. Até que cresci e encontrei esse personagem na vida real, na figura dos héteros-top-faria-limer. Desde então, percebi que apesar de ter sido ensinada a desejar esse padrão, eu definitivamente não quero um cara assim.
Desde que comecei a investigar minha raça, ancestralidade e negritude, passei a ver beleza em mim e nos meus pares. Desconstruí imagens racistas e comecei a sonhar com um relacionamento afrocentrado, troquei o príncipe da Disney pelo príncipe de Wakanda.
É aí que a saga se inicia.
Parei de olhar para homens brancos e passei a me relacionar apenas com homens pretos. Na minha fan-fic de libriana apaixonada, sonhava com um #afrodengo, um romance mono racial como meu pretinho do poder ❤
Me permiti viver, beijar, amar! Mas aprendi que nada é simples, e no meio dessas complexidades, fui apresentada a não-monogamia.
De acordo com o terapeuta sexual Francisco Ilo, a não monogamia é multifacetada e repleta de particularidades. Alguns relacionamentos não-monogâmicos se baseiam na não-exclusividade afetiva ou sexual, diminuindo a traição, o ciúmes e a ideia de propriedade sobre o outro.
Na teoria é uma coisa linda, né?
Mas na prática, percebi que existem muitos atrevessamentos não-ditos. Antes de decidir se queria viver uma relação assim, troquei ideia com amigos, li artigos e me permiti investigar.
E é aquela famosa história: com conhecimento vem os questionamentos. A pergunta que ficou vibrando no meu coração foi:
“Será que a não-monogamia realmente é uma forma de viver a liberdade plena dentro de um relacionamento ou é apenas uma desculpa que pessoas inseguras utilizam para evitar um envolvimento profundo com apenas uma pessoa?”
Sinceramente, eu não sei.
Encontrei mais perguntas do que respostas e sinto que você, querido homem negro, pode me ajudar a descobrir:
- Você já esteve num relacionamento não-monogâmico? Qual é a sua visão sobre isso?
- Você busca um relacionamento afrocentrado, interracial ou quer apenas encontrar uma pessoa bacana independente da raça?
- To problematizando muito e tenho que apenas beijar na boca?
KKKKKKK
Brincadeiras à parte, eu estou realmente interessada nas respostas.
Sei que rola medo, insegurança e dúvidas que não são só minhas. Existe valor no ato de partilhar e quero criar um espaço seguro de trocas.
Eaí, topa dividir seus pensamentos? :)
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Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.