As contribuições de Antonio Gramsci sobre hegemonia

Aula 04 da disciplina Estado, Mudança Social e Participação Política, do prof Dennis de Oliveira

Amanda da Cruz Costa
4 min readMay 13, 2024

Olá lindeza climática ❤

Quando vou para a USP sinto que estou num universo paralelo. Volto para a Amanda Jovem Adulta e me encanto pelas aulas, discussões e estudos. Na quarta aula do curso, estudamos sobre Antonio Gramsci. Você já ouviu falar desse cara?

Antonio Gramsci (1891–1937) foi um ativista político, jornalista e intelectual italiano, sendo reconhecido como um dos principais fundadores do Partido Comunista da Itália. Durante muitos anos Antônio esteve na prisão, portanto a sua obra original é caracterizada por conter textos extremamente dispersos, No entanto, seus discípulos decidiram organizar seus escritos. Um dos principais pontos abordados pelo ativista é o conceito de hegemonia.

Gramsci viveu num período pós I Guerra Mundial, onde havia uma profunda crise do sistema capitalista. Havia um sonho comunista de transformar o sistema do mundo, influenciado pelas ideias de Karl Marx, Nicolau Maquiavel e Georg Hegel.

De acordo com Marx, a crise do capitalismo tinha apenas duas soluções: guerra (destruição das forças produtivas) ou revolução socialista (que ocorreria nos países tecnicamente mais avançados). Todavia, não foi isso que aconteceu.

A revolução socialista primeiramente aconteceu na URSS — União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, através de uma mobilização do estado operário desenvolvendo medidas capitalistas que não foram feitas pela classe dominante.

Gramsci defendia que numa sociedade maquiavélica, há um consenso não de toda a sociedade, mas de uma classe específica. Portanto, para fazer uma revolução é necessário batalhar pela hegemonia e o partido político de um grupo precisaria se tornar um partido de TODOS (projetos).

“Toda discussão do Gramsci não é uma discussão de um filósofo, mas sim de um revolucionário.” (Dennis de Oliveira)

O partido Bolchevique, por exemplo, a fim de se aproximar das massas, exclamava a seguinte palavra de ordem quando estava no poder: Pão, Terra e Paz. Pão simbolizava acabar com a fome, que castigava o povo com intensidade no cenário pós-guerra. Terra remetia a reforma agrária, desfazer a concentração de terra e disponibilizar um território fértil para a população e por fim, paz, que defendia a ideia de por fim a guerra que atravessava a Europa.

Neste sentido, Gramsci apoiava que a construção da hegemonia deveria passar por um consenso entre as classes dominadas (operários, camponeses etc), ou sejam classes que são subalternizadas dentro da estrutura capitalista.

  • Sociedade política: Estado stricto-sensu: aparelhos coercitivos (normas, leis)
  • Sociedade civil: Estado ampliado: construção de consenso nos aparelhos privados de hegemonia (igreja, escolas, meios de comunicação de massa)

Graças a seus discípulos, a teoria de Gramsci se espalhou pelo mundo todo. Os gramscianos latinos-americanos desenvolveram a ideia de contra-hegemonia, realizada a partir de um projeto que propõe uma prática de resistência aos discursos de gestão dominantes que buscam constatar e escapar à disciplina da ordem do sistema capitalista.

Cultura é a expressão do consenso

Gramsci não tinha uma visão muito positiva da cultura popular, para ele a cultura era apenas senso comum. Em sua visão, o intelectual orgânico seria construído a partir de articulações e consenso. Essa prática serviria para fortalecer a hegemonia, e portanto, apoiaria tanto na manutenção de uma liderança, quanto na construção de um projeto para superar essa própria liderança.

Querida leitora, é aqui que entra a pergunta principal da aula:

É possível construir uma hegemonia sem tomar o poder?

De acordo com Gramsci, não. A luta pela hegemonia perpassa por uma luta de controle do estado. Mas quando analisamos a realidade brasileira, percebemos que há uma diferença enooooorme entre ganhar uma eleição e tomar o poder.

Poissss é, minha cara leitora.

Hoje, o Brasil passa por uma forte crise na democracia. Quem não lembra dos ataques do dia 08 de janeiro? Esse dia foi marcado com símbolos de vandalismo, descrédito da política institucional e tentativa de golpe. (Escrevi um artigo sobre o assunto, veja aqui — -> Brasil acima de tudo, Deus acima de todos?)

A grande questão que se coloca nos movimentos de esquerda é: reforma ou revolução?

Como ativista, eu gostaria de ver uma revolução: social, educacional, agrária, tributária, do nosso modelo de desenvolvimento… Não podemos simplesmente aceitar passivamente um neoliberalismo que ataca o modelo de Estado de bem-estar social e prejudica os mais empobrecidos e vulnerabilizados!

A real é que existe uma tendência antropofágica do capitalismo: ele vai se autodestruir para conseguir se manter. O ponto de discussão é: vamos conseguir ultrapassá-lo antes de ser sucumbidos por esse sistema?

“O capital não tem coração. Ele tem grana. No entanto, ele usa o coração como ferramenta de ataque.” (Dennis de Oliveira)

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Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável