#01 Formação de Consciência Negra

Reflexões sobre a primeira aula do curso do Prof João Elias

Amanda da Cruz Costa
4 min readAug 11, 2022

Olá meu biscoitinho de polvilho crocante, tudo bem? :)

No dia 10 de junho tomei a decisão que mudará a minha vida para sempre: iniciei o curso de Formação de Consciência Negra, do professor João Elias.

O Prof João disse para eu lembrar bem desse momento, da forma que penso hoje e como interajo com as pessoas, pois a minha visão sobre o mundo irá mudar. Não sei o que vai acontecer, mas decidi aprender em voz alta, ou seja, quero compartilhar minhas descobertas para que você também possa ter acesso a esse conhecimento tão profundo e valioso.

É curioso pensar na importância que essa formação tem para mim. Sou mulher preta, moro na Brasilândia, mas foi há pouco tempo que comecei a ver valor nesse lugar. A real-oficial é que o racismo se tornou uma realidade tãaaao onipresente na minha vida que simplesmente, foi naturalizado.

“O racismo estrutura a vida dos brancos e negros como uma gangorra social. Nesta gangorra os negros têm que ficar por baixo para que brancos fiquem por cima. Para sempre, sempre e sempre.” (João Elias)

Você pode estar achando que toda essa questão é pira da minha cabeça, mas calma, sem crise. Vou te mostrar que todo esse meu questionamento tem fundamento.

Você já viu o quadro abaixo?

QUADRO — A REDENÇÃO DE CAM (1895)

O quadro A REDENÇÃO DE CAM é um recorte dos tempos de Brasil Império, onde imperava o desejo do embranquecimento da família. Observe os seguintes pontos:

  • Mulher negra retinta descalça, pisando na terra. Isso significa que ela está distante da civilização, próxima da natureza;
  • Filha com traços evidentes da mestiçagem, provavelmente fruto de um estupro. A filha está com os pés entre a Terra e o chão pavimentado.
  • Homem branco que carrega um sorriso de satisfação/deboche e um olhar de superioridade, passando uma sensação de que “cumpriu seu dever”. Ele tem os pés calçados, está num piso pavimentado e sentado na entrada de uma propriedade.

Esse quadro representa um contexto eugenista, trazendo a ideia de que o clareamento da pele de uma pessoa significa algo positivo. Outro ponto de destaque é o nome do quadro: A REDENÇÃO DE CAM. Redenção significa salvação e segundo relatos bíblicos, Cam recebeu uma maldição de seu pai Noé, o qual disse que seus descendentes seriam servos de servos.

No Brasil, João Batista De Lacerda, num congresso internacional das raças, garantiu que em três gerações, toda a população brasileira nasceria de pele clara, através do projeto de mestiçagem (projeto eugenista).

Eugenista: Os eugenistas defendiam a ideia de que as qualidades raciais das futuras gerações dependeriam de um controle social que visasse o melhoramento da espécie humana. Para isso, desenvolveram diversos métodos que tentassem impedir que “maus elementos” se reproduzissem, sobretudo indivíduos de raça negra.

Ainda bem que esse plano fracassou, né?!

Mas querida leitora, já reparou que ainda hoje nossa sociedade está numa busca incessante pelas características europeias através de procedimentos estéticos para afinar o nariz, clarear o cabelo etc?

No subconsciente de uma sociedade estruturalmente racista, a medida que o negro vai se tornando branco, ele vai alcançando a “redenção”. Aí fazemos uma conexão atual com o quadro!

“A recusa de si é o assassinato simbólico de si mesmo.” (João Elias)

Esse pensamento vem lá de trássss!

No mundo católico, a escravidão foi justificada como uma possibilidade de salvação da alma do negro. Mais tarde, a justificativa religiosa foi abandonada e o argumento utilizado foi a biologia: começou a dizer que os genes do negro eram inferiores, numa perspetiva de que o negro era subhumano.

Para enfrentar esse pensamento, em 1787 a campanha antiescravidão “Não sou homem e irmão?” foi criada na Inglaterra, por Josiah Wedgwood:

Depois de abandonar a religião e a biologia para justificar a escravidão, foi colocado a questão cultural, trazendo a perspectiva de que a cultura do negro era “primitiva”. Já nos dias atuais, a questão do racismo é colocada como algo que está impregnado nas estruturas da nossa sociedade.

[Clique aqui e leia meu artigo: RACISMO ESTRUTURAL]

Ufaaaa! E olha que todo esse conteúdo foi só do primeiro dia. Estou animada para embarcar nessa jornada da escurecimento, resgate cultural e valorização da minha identidade ❤

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Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira da ONU, delegada do Brasil no G20 Youth Summit e fundou o Instituto Perifa Sustentável. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, LinkedIn Top Voices e Creator, Global Shaper (Fórum Econômico Mundial), TEDx Speaker e hoje atua como apresentadora do #TemClimaParaIsso? um programa sobre crise climática.

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Amanda da Cruz Costa
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Written by Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável

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