Projeto AYÊ — Mulheres para a COP 30: Ciência das Mudanças Climáticas
Aula 01/11, com Jessilane e Gisele Moura
Finalmente, começamos! Com o apoio da Embaixada do Reino Unido, o Instituto Perifa Sustentável está desenvolvendo o projeto AYÊ- Mulheres para a COP 30, uma formação completinha para lideranças negras e indígenas ampliarem suas capacidades e levarem as demandas de seus territórios para a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU que esse ano, ocorrerá na cidade de Belém, no Pará.
E como a gente sempre chega em grande estilo, convidamos ninguém mais, ninguém menos que ela, a influencer, ex BBB 22 e a rainha da biodiversidade Jessilane! Foi uma aula suuuuper potente e quero compartilhar os principais aprendizados num breve artigo abaixo.
Bora que bora? =)
Jessi começou explicando que numa situação de crise climática, as pessoas mais afetadas são as que menos acessam os espaços de tomada de decisão. Desse modo, é importantíssimo que nós, mulheres negras e indígenas, estruturalmente marginalizadas e excluídas, entendamos tal contexto para dar nosso jeitinho de hackear o sistema.
Masss para início de papo, bora entender porque entramos numa crise climática?
Um dos principais fatores é o desequilíbrio do Efeito Estufa, um processo natural que regula a temperatura da terra retendo o calor do sol na atmosfera. Gases como o CO2 agem como uma espécie de cobertor, permitindo que a Terra mantenha uma temperatura ideal para a vida. Veja a figura abaixo:
“O efeito estufa é um processo natural e extremamente necessário para o nosso planeta. Mas à medida que a gente foi retirando todos os recursos do nosso planeta, provocamos um desequilíbrio. O CO2 não é o problema, mas sim as pessoas.” (Jessilane)
Sistemas Naturais: Regulação do Clima
Dentro deste contexto, existem alguns sistemas que contribuem para a regulação do clima do planeta e portanto, carecem de extremo cuidado. São eles:
- Florestas: absorvem CO2, liberam oxigênio e regulam o ciclo da água;
- Oceanos: absorvem o CO2 e regulam a temperatura global. Contudo, estão sofrendo com a acidificação.
- Biodiversidade: A diversidade biológica é fundamental para a saúde do planeta e para o clima.
As florestas, juntamente com os oceanos e a biodiversidade, são essenciais para manter o equilíbrio sistêmico do planeta. No entanto, o aumento do desmatamento, da exploração de combustíveis fósseis e da poluição, contribuem para a intensificação do Efeito Estufa e consequentemente, o aquecimento global.
Neste sentido, a desregulação climática leva a eventos climáticos extremos cada vez mais intensos. Já reparou que o clima do mundo está meio maluco? Hoje vemos muito mais incêndios florestais, inundações, chuvas torrenciais, secas, tornados e furacões, que ano após ano desalojam famílias, destroem a infraestrutura local e causam danos e perdas irreversíveis! Esse cenário causa um impacto desumano nas comunidades locais, as quais sofrem com deslocamentos climáticos, insegurança alimentar, perdas econômicas e incontáveis riscos à saúde.
Masssss, apesar do cenário catastrófico, nem tudo está perdido! Há um caminho possível que pode potencializar a redução de emissores, basta investimento econômico, vontade política e o fomento de diálogos intersetoriais. Precisamos cobrar nossos representantes políticos para que façam uma transição energética justa, priorizem energia renovável (apostando em fontes de energia limpas e renováveis para reduzir a dependência de combustíveis fósseis), eficiência energética (utilizando tecnologias e práticas que minimizem o consumo de energia e assim diminuam as emissões) e optem pelo transporte sustentável (criando formas atrativas para que a população utilize o transporte público, bicicletas e veículos elétricos).
Cara leitora, existem inúmeras possibilidades que podem contribuir para esse processo. Quanto mais pessoas estiverem engajadas no tema, maiores serão as nossas chances para fomentar uma transformação sistêmica dentro da nossa cadeia produtiva. E nem vem com esse papo de falar que você é muito pequena e não pode contribuir com essa pauta, viu?
A mudança começa de dentro para fora e quando cada indivíduo fizer a sua parte, a transformação será sistêmica! Para fortalecer esse processo, que tal:
- Fazer mudanças nos seus hábitos de consumo?
- Apoiar iniciativas sustentáveis da sua comunidade?
- Participar do debate climático mais ativamente?
Éeee gata garota, depois desse chacoalhão da Jessi, foi a vez da cientista social e técnica ambiental Gisele Moura nos dar aula (literalmente rs). Ela começou explicando o paradoxo das mudanças climáticas: apesar de ser uma das maiores ameaças à existência da humanidade, ela foi causada pela própria ação antrópica/humana!
Já dizia Emicida: “A gente vai entrar em extinção, tipo as araras. Eu sei, se derrete o Alaska nóis se lasca.” (Música Final dos Tempos)
De acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (publicado em 2023), a temperatura média global aumentou 1,09 oC entre 2011 e 2020, comparado ao período de 1850 a 1900. Mas você já parou para refletir sobre o que isso significa na prática?
Na prática, isso significa que “ta calor para caramba, ta faltando água, as comidas estão mais caras e o povo preto, pobre e periférico está sofrendo. Quando vemos os dados, precisamos trazer para a nossa realidade prática, nosso dia-a-dia.” (Gisele Moura)
O barato é louco e o processo é lento, mas o governo vem tentando fazer a sua parte. Em 1998, o Decreto n 2.652 que promulgou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) no Brasil definiu mudança climática como:
“Alteração de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altera a composição da atmosfera global e que se soma a variabilidade climática natural observada durante períodos de tempo comparáveis.”
Já em 2009, a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) foi instituída pela Lei 12.187 no Brasil.
Se o cenário não mudar, é certo que a quantidade de chuva reduzirá em todos os biomas, com exceção da Mata Atlântica! Enquanto que na Amazônia esse processo pode levar a savanização, perda de biodiversidade e aumento da frequência de incêndios florestais, no cerrado o risco é de desertificação, comprometimento da agricultura e perda de espécies nativas. Já a caatinga sofrerá com o aumento da aridez e intensificação das secas. Por sua vez, o pantanal estará sujeito a alterações no regime natural de inundações, afetando a biodiversidade e aumentando a incidência de incêndios. Por fim, a mata atlântica terá mais riscos de deslizamentos de terra, perda da biodiversidade e alterações nos ecossistemas locais.
Ou seja, é só EITA ATRÁS DE VIXE! A longo prazo nosso país sofrerá com a perda de produção, diminuição de áreas agrícolas e redução significativa da biodiversidade nacional.
“Essas projeções destacam a urgência de medidas de mitigação e adaptação para preservar os biomas brasileiros e suas respectivas diversidades.” (Gisele Moura)
Os processos que podem amplificar ou reduzir os efeitos das mudanças climáticas são chamados de feedbacks climáticos. Enquanto os feedbacks positivos intensificam as mudanças, os negativos as atenuam, ajudando a reduzir ou equilibrar as mudanças climáticas e consequentemente, estabilizando o sistema.
Exemplo:
A Floresta Amazônica, por exemplo, apresenta um efeito interessante: quando as áreas desmatadas começam a se regenerar, as novas árvores aumentam a evapotranspiração (liberação de água pelas plantas), o aumento de árvores captam mais CO2 da atmosfera, ajudando a reduzir o aquecimento global e restauram o ciclo hidrológico. Esse processo resfria a atmosfera e estimula a formação de nuvens e chuvas, ajudando a mitigar o aquecimento local.
“A natureza possui formas de se autorregular e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, desde que os biomas sejam preservados.”(Gisele Moura)
Esse debate é complexo e cabe a reflexão:
As mudanças climáticas são culpa do homem? De qual homem?
Se o modelo político, econômico, de consumo, de produção e de trabalho fossem baseados nos modelos de vida dos povos originários ou dos povos africanos, será que estaríamos enfrentando os mesmo desafios ambientais do século XXI?
Infelizmente, grande parte do sistema ocidental foi marcado pelo distanciamento entre o homem, a natureza e a cultura. Esse processo foi nominado por Marimba Ani como “Semente da Cultura do Ocidente”:
Desde 2019, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já trazia a necessidade de olhar para os povos originários e tradicionais e o viver, produzir e se alimentar deles como um aprendizado importante para frear os avanços do aquecimento global.
O modo de vida e desenvolvimento que pauta a sociedade atual cria mecanismos de desigualdade e coloca alguns povos em maior risco e vulnerabilidade que outros. E aí leitora, na sua opinião, como resolveremos essa situação?
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Ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU e fundadora do Instituto Perifa Sustentável. Amanda Costa é formada em Relações Internacionais, atua como Embaixadora Cultural dos EUA (IVLP — International Valuable Leadership Program) e Jovem Consultora do British Consul (Climate Skills e #90YouhVoices — UK). Reconhecida como #Under30 na revista Forbes, é TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices, LinkedIn Creator e já participou de 5 conferências oficiais das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, sendo elas COP 23 — Bonn (Alemanha), COP 24 — Katowice (Polônia), COP 26 — Glasglow (UK), COP 27 — Sharm El Sheik (Egito), COP 28 — Dubai (Emirados Árabes), COP29 — Baku (Azerbaijão). Em 2024, Amanda foi painelista no BRICS Green Cities Forum, em Moscow — Rússia.