Percepções sobre a COP, até o momento
#COP29 — Baku, Texto 2/3 (Veja também Texto 1 — Por uma Adaptação Climática Antirracista e Texto 3 — Reflexões de uma jovem ativista climática)
Olá minha lindeza climática ❤
Chegamos ao fim da primeira semana da COP 29, a conferência de mudanças climáticas da ONU que está acontecendo na cidade de Baku, em Azerbaijão. A conferência que ficou conhecida como COP das Finanças trouxe diversooooos desafios, como baixa representatividade da sociedade civil e ausência de líderes políticos importantes no cenário global, como os presidentes da China, EUA, França, Rússia e Brasil. Além disso, os negociadores Argentinos se retiraram da COP nos primeiros dias, o que acende um farol amarelo para os posicionamentos do bloco SUR (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e recentemente o Equador).
É gata garota, eu sinto que a COP de 2024 está desidratada, tanto em sua efetividade quanto na legitimidade para o cenário internacional. Em paralelo acontece o G20 que já sinalizou avanços mais nítidos sobre financiamento climático. Só falta você, COP29!
Se os líderes mundiais não conseguem nem comparecer ao evento, como vão encontrar soluções eficientes para frear o aquecimento global, implementar os objetivos de desenvolvimento sustentável e desenvolver ações concretas para cuidar do nosso planeta?
Confesso que meu coração ficou apertadinho diante de tantas dificuldades e incertezas. A eleição de Donald Trump nos EUA reacendeu diversos debates sobre o posicionamento americano, principalmente em temas relacionados ao apoio a Israel no genocidio contra a Palestina, a retomada de medidas econômicas protecionistas e o negacionismo da urgência da implementação de políticas climáticas e ambientais.
Massss, antes das lágrimas de desespero rolarem pelo nosso rostinho bonito, bora falar da primeira semana da COP 29?
Na minha percepção, a primeira semana trouxe uma combinação de muito trabalho técnico e preocupações políticas e sociais. Percebi que diferente de Dubai, onde muitas decisões foram tomadas logo no começo impulsionadas pelos acordos e disposições políticas, o Azerbaijão teve uma abordagem mais técnica, com a atenção voltada para os temas de adaptação, mitigação, financiamento climático e a árdua tarefa de não fazer a abordagem de direitos humanos ir para o ralo. Houve pouco progresso nas negociações do monitoramento do Balanço Global, Programas de Trabalho de Mitigação e Transição Justa, Medidas de Respostas e Gênero e Clima.
Na verdade, em comparação com o que já tinha sido pactuado na SB60 (Conferência de BONN em 2024) acumulamos nesta primeira semana de COP muitoooooos retrocessos. Um exemplo é a tentativa de retirada do próprio termo “gênero” dos documentos de negociação de Gênero e Clima. Segura esse forninho! \0/
De forma geral, as negociações de financiamento travaram todo o rolê e um sentimento de frustração, combinado com recheio de incertezas e coberto com pitadinhas de insatisfação, imperou nos corredores da COP, principalmente entre jovens ativistas e ambientalistas ambiciosos, que gostariam de ver o progresso desta missão.
Outro ponto que merece destaque foi a presença de um convidado especial e inusitado do governo azerbaijano, nosso bruxão Ronaldinho Gaúcho! Essa foi uma tentativa de fortalecer o COP Truce, uma proposta de trégua temporária para os conflitos globais, principalmente entre Armênia e Azerbaijão. Apesar da boa ação de marketing global (a galera aqui é muitoooooo fã do futebol brasileiro), analisei isso como uma nova estratégia de sportwashing.
Nada nessa vida é por acaso, minha querida leitora climática. Tuuuudinho está conectado, e você já parou para pensar na relação entre futebol e combustíveis fósseis?
Nos últimos anos, governos e empresas de petróleo utilizaram o esporte para melhorar suas imagens institucionais, patrocinando tanto clubes quanto eventos, como a Copa no Catar e os contratos milionários de jogadores na Arábia Saudita, como Cristiano Ronaldo, Karim Benzema, Sadio Mané, Roberto Firmino e o nosso polêmico menino Ney. A Petrobras, por exemplo, se tornou a maior patrocinadora de eventos relacionados ao futebol feminino, incluindo o Paulistão Feminino, a Copinha Feminina e a Copa Paulista.
A Amanda de 2012, de 16 aninhos, que sonhava em se tornar jogadora de futebol, nunca imaginaria que depois de 12 anos, A Amanda de 28 anos se tornaria uma internacionalista levantando críticas profundas sobre empresas de petróleo e gás que se utilizam da #hypeclimático para melhorar sua aceitação mediante o público D:
Pois é, minha gata garota. Parece que a luta por novas construções ideológicas, planos de governo ecológicos e reestruturação do sistema global de financiamento está sendo jogada para escanteio. Aqui na COP 29 tivemos um time de peso de lobistas da indústria petroleira, com 1773 representantes influenciando os tomadores de decisão. De acordo com o site Central do Clima, “há mais lobistas do que a soma de todos os delegados mais afetados pela crise do clima: Chade, Ilhas Salomão, Niger, Micronésia, Guiné-Bissau, Somália, Tonga, Eritreia, Sudão e Mali.”
Desesperador, eu sei.
A real é que há mais de 30 anos grandes poluidores sabotam as negociações climáticas para manter seus lucros, enquanto comunidades do Sul Global sofrem com os piores impactos desta crise! Aqui na COP, os países do sul global se uniram para exigir um maior comprometimento financeiro. A antiga meta de 100 bilhões, que foi atingida (com muitas controvérsias se foi mesmo!) apenas no ano passado, está sendo revisada e os mais ambiciosos esperam um novo fundo, que precisa ser trilionário, para atender as metas de agendas que se tornam cada vez mais urgentes, como perdas e danos e adaptação climática.
É só eita atrás de vixe!
Para mim, a primeira semana da COP29 reforçou a necessidade de maior engajamento político, representatividade local e compromisso global. Já falei mas vou repetir: está na hora de parar de blá-blá-blá e traduzir compromissos em ações concretas. Afinal, somos nós, mulheres negras e periféricas, quem estão pagando a conta com a própria vida!
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Ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU e fundadora do Instituto Perifa Sustentável. Amanda Costa é formada em Relações Internacionais, atua como Embaixadora Cultural dos EUA (IVLP — International Valuable Leadership Program) e Jovem Consultora do British Consul (Climate Skills e #90YouhVoices — UK). Reconhecida como #Under30 na revista Forbes, é TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices, LinkedIn Creator e já participou de 5 conferências oficiais das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, sendo elas COP 23 — Bonn (Alemanha), COP 24 — Katowice (Polônia), COP 26 — Glasglow (UK), COP 27 — Sharm El Sheik (Egito), COP 28 — Dubai (Emirados Árabes), COP29 — Baku (Azerbaijão). Em 2024, Amanda foi painelista no BRICS Green Cities Forum, em Moscow — Rússia.