Os desafios de uma jovem mulher preta

Amanda da Cruz Costa
4 min readNov 28, 2022

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Créditos: @Fee.bubblegum

Um dos meus maiores medos é me perder.

Esquecer quem eu sou, me distanciar do lugar de onde vim ou ser engolida pelo ego, disputas ou pelo próprio racismo.

Mas quando entro nessas piras eu paro, respiro e reflito.

Na imersão de pensamentos, percebo que outro medo também é não me perder. Ver o tempo passar e permanecer a mesma: manter os mesmos pensamentos, os mesmos sonhos e a mesma ingenuidade infantil que me fez chegar até aqui.

Acolho a minha história, valorizo a minha trajetória e escolho amadurecer.

Para estar onde estou (Dir. Executiva do Instituto Perifa Sustentável, Apresentadora do Programa de Televisão #TemClimaPraIsso? e Jovem Conselheira do Pacto Global da ONU) eu tive que transcender. Criei uma realidade paralela e acreditei num mundo imaginário onde havia espaço para que meus sonhos se tornassem realidade.

Frases como:

  • Eu estou destinada à grandeza.
  • Eu sou um sinal de Deus para esta geração.
  • Eu nasci para desfrutar o melhor dessa Terra.

Fizeram parte da parede do meu quarto, moldando minha forma de pensar e influenciando as minhas atitudes.

Mas não quero permanecer no mundo imaginário, quero que a minha realidade interna transborde e vire verdade não só para mim, mas também para os meus. Navego num realismo otimista, entendo que é possível ver o mundo como ele realmente é e criar o mundo que eu realmente sonho.

Sinto que passeio por diferentes universos: quebrada X espaços de poder.

Sou da Brasilândia, uma das maiores periferias de São Paulo, mas como Jovem Embaixadora da ONU, acompanho algumas discussões globais, como a Conferência de mudanças climáticas da ONU, a COP 27 — Egito.

Diálogo com grandes tomadores de decisão, faço política a nível internacional e comunico os perrengues nada chiques no meu instagram (@souamandacosta) e Linkedin.

Essa COP foi intensa, complexa e desafiadora.

Completei o trabalho, mas muitas coisas mudaram dentro de mim.

Ao mesmo tempo que desejo ser uma referência para a minha quebrada, me pergunto se vale a pena pagar o preço. Percebo que tem uma galeeeeera se degladiando para conquistar esse lugar, almejando status, dinheiro e poder.

Esse não é o mundo que acredito, mas tudo é tão intenso que sinto medo de ser cooptada. Não dá mais para ser ingênua e fingir que essas coisas não existem, mas também não quero jogar o jogo.

Não há espaços para vitoriosos nessa lógica, somente dores, tristeza e frustrações.

Apesar das feridas, agradeço a oportunidade de viver esse momento e refletir sobre ele. Parar, pensar criticamente sobre os processos que me atravessam e entender os impactos que eles me causaram, me causam e ainda vão me causar.

Reposicionamento e realinhamento.

Lembro do meu propósito e escolho permanecer firme. Eu sei o que quero, e por mais que sinta medo, não vou desistir. Quero…

  • mobilizar a juventude para criar uma nova agenda de desenvolvimento para o Brasil, trazendo as perspectivas de raça e clima.
  • apoiar jovens pretos e periféricos para que ocupem espaços junto aos tomadores de decisão.
  • desenvolver projetos de transformação territorial para as quebradas, favelas e comunidades.

Para isso, escolho construir relações baseadas em verdades, sem disputas de ego, entendendo que há espaços para todos quando temos objetivos em comum.

Talvez eu me perca durante o processo? Talvez.

Mas alinho a rota e prossigo em direção ao alvo. Tenho apenas 26 anos e estou num processo contínuo de aprendizagem, reflexão e amadurecimento.

E quando me questionam sobre as minhas decisões, ecoo a letra da música “Se o Caminho é Meu”, da Dona Ivone Lara:

Se o caminho é meu, deixa eu caminhar, deixa eu. Se o caminho é meu, deixa eu. Se o caminho for de pedras, sou eu que vou tropeçar. Se o caminho for de agruras, eu que vou me amargurar. Se o caminho for de espinhos, sou eu quem vou me espetar. Se o caminho for de rosas, eu que vou me perfumar.

Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.

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Amanda da Cruz Costa
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Written by Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável

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