O racismo nosso de cada dia
Estou no aeroporto de Guarulhos, vim pegar um voo rumo ao Rio de Janeiro para mais uma viagem a trabalho.
Tudo corria bem, até que cheguei na parte do raio X e a atendente me falou:
- Você foi escolhida para passar pela vistoria de segurança.
Esse procedimento não é nenhuma novidade para mim, já aconteceu tantas e tantas vezes que me faz questionar o motivo de meu corpo ser sempre o escolhido.
Assim que passei pelo raio x, outra funcionária veio na minha direção com um sorriso simpático no rosto e disse:
- Você foi escolhida para passar pela vistoria de segurança.
Eu respondi:
- Tudo bem, estou acostumada.
Então ela falou:
- Hmmmm, será que você é sortuda?
Eu disse:
- Desde que comecei a estudar sobre racismo, percebi que isso não é sorte. Na verdade, isso tem outro nome.
A funcionária olhou no fundo dos meus olhos, assentiu e abaixou a cabeça. Ela fez a vistoria rapidamente e disse que eu poderia seguir.
Senti raiva, impotência e tristeza. Será que sempre vou ter que lidar com situações como essa?
Esse episódio me levou a refletir:
- Quais são os corpos que tem livre acessos aos ambientes elitizados?
- Existe alguma política que auxilia os funcionários a escolherem os corpos que serão revistados?
- Quantas pessoas negras são “aleatoriamente” escolhidas para passar por esse procedimento de segurança?
Confesso que enfrentar as micro agressões diárias é bemmm exaustivo! Uma sociedade de supremacia branca não está acostumada a ver uma jovem mulher negra viajando a trabalho?
Ora meu corpo é infantilizado, ora hipersexualizado, ora invisibilizado, ora marginalizado… Me lembrando sempre que alguns espaços definitivamente não foram feitos para mim.
Mas quando mais me sinto agredida, mais me sinto instigada a estudar, trabalhar e lutar pelos direitos do meu povo. Quero entender as estruturas sociais para conseguir transformá-las.
E sei que não estou sozinha nessa luta ✊🏾
Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.