O Jesus Negro — O grito antirracista da Bíblia

Reflexões do novo livro do Pastor Henrique Vieira

Amanda da Cruz Costa
5 min readJun 9, 2023
“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”. (Dom Helder Câmara)

Olá minha lasca de abóbora com óleo de coco :)

Quem acompanha meu corre, sabe que sou cristã. Amo a Deus, caminho ao lado de Jesus e sou transformada, dia após dia, pela graça do Espírito Santo. Contudo, falar que adoro ficar chapadona de glória num contexto fora da igreja pode soar esquisito. Ainda mais num núcleo formado por militantes progressistas que estão com ranço de crente.

Não os julgo, ser evangélico no Brasil se tornou algo complexo.

Mas hoje, quero pedir licença para compartilhar um pouquinho da minha fé, contar sobre um Jesus que

  • não menosprezava os pobres, andava com eles;
  • incentivou os poderosos a partilharem suas riquezas;
  • questionou as estruturas de poder e organizou movimentos de base;
  • entre matar e morrer, decidiu morrer.

O Jesus que encontro na Bíblia é um cara humilde de origem popular, dono de uma fé engajadora e que possuia um compromisso verdadeiro com os marginalizados. Para mim, ele foi o ativista que confrontou o contexto cultural, histórico, político, social e econômico para lutar contra as desigualdades, superar as injustiças, destituir privilégios e fomentar a diversidade.

Um Deus eterno, atemporal e universal, que saiu da eternidade e adentrou o espaço-tempo da sua criação para nos ensinar a viver. Ele se despiu de sua glória para colocar os pés na terra, ele pisou no chão da história para transformar o mundo!

“Assim, ao escolher assumir a condição humana, Deus, na soberania da sua vontade, caminhou no chão da periferia do mundo para sentir as dores e esperanças dos empobrecidos, oprimidos e vítimas de violência.” (Henrique Vieria)

Aprendi com meu Senhor que o evangelho é um compromisso ardente por uma radical transformação da sociedade. Posso refletir sobre Jesus porque, como mulher negra e periférica, experimento-o em meu corpo todos os dias!

Onde estava Deus durante a escravidão do povo negro?

Quando refliro sobre a história de Jesus e lembro da cruz, percebo que ele também estava sendo escravizado. Deus estava na lágrima de uma mãe preta separada de seu filho, estava nas costas sangrentas do homem preto que apanhava de um senhor escravocrata.

Querida leitora, afirmar que Jesus é negro te causa repulsa?

A real é que a Bíblia é um livro negro que, historicamente, foi submetida por uma interpretação branca, que silenciou seus conflitos políticos, econômico e sociais e restringiu a postura de Jesus apenas como o “cara que apanha e oferece a outra face por amor.” Contudo, fazer justiça também é um ato de amor.

Em seu livro, o Pastor Henrique faz um paralelo com quilombos interessante. Veja:

“A Bíblia foi escrita em ambiente semelhante ao dos quilombos, mas vem sendo interpretada na sala da casa-grande. Ela traz uma experiência popular, periférica e negra: conta como Deus se compadece dos oprimidos e os chama para a liberdade. Sua interpretação, contudo, vem sendo feita pela lente daqueles que não só oprimem, mas que se beneficiam das estruturas de opressão como projeto de poder.” (Henrique Vieira)

Não dá mais para viver um evangelho omisso diante do racismo! É preciso ativar, o senso de urgência e responsabilidade para ser as mãos e os pés de Jesus no mundo. A luta antirracista nasce do evangelho e se carcateriza como uma expressão de obediência à vontade de Deus para a humanidade.

Como a cruz não foi capaz de prevalecer sobre a rebeldia do amor, todo esse sistema racista de opressão não será capaz de prevalecer diante dos Filhos da Luz. Como disse o pastor Henrique, “É essensial ler Jesus não a partir da lente do estado que o matou, mas da periferia que o formou!”

A luta do amor

Existe uma história de violência, colonização e dor, mas somos muito mais que isso.

O que mais me encanta no evangelho é saber que estou numa grande batalha, mas as minhas armas de guerra não são nada convencionais: luto com amor, paz, esperança, alegria e ousadia no Espírito Santo. Sei que faço parte de um projeto de libertação e revolução que vai chacoalhar a humanidade, trazer o Reino dos Céus à Terra e construir uma sociedade de justiça e reparação histórica.

Até porque, o meu Jesus não curou apenas as pessoas, mas usou seu poder para curar a estrutura social excludente e preconceituosa! Ele visitou a história humana para se identificar, se expressar e se revelar através de todos os povos oprimidos. Como disse o querido autor de O Jesus Negro — O grito antirracista da Bíblia:

“Identificar Jesus como negro torna o amor profundo, a paz urgente e a esperança uma realidade. Num contexto histórico racista e de supremacia branca, a negritude de Jesus mantém o evangelho com os pés no chão e as asas no céu. Trata-se de uma espiritualidade encarnada, engajada, politizada e com vocação à eternidade. Remonta à cruz, compromete-se com o Crucificado, atrela glória ao serviço, anuncia a radicalidade do amor, recusa os sistemas de morte, mantém-se ao lado dos oprimidos, chama para ações de reparação, abre as janelas do futuro e faz a esperança acontecer. Viva Jesus! Mas é importante situá-lo e dizer: Viva o Jesus de Nazaré! Viva o Jesus negro!” (Henrique Vieira)

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Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável