Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano
Reflexões do livro da Grada Kilomba
Olá minha lindeza climática :)
Se você me acompanha no LinkedIn, viu que estou na missão de escrever um livro. Esse é um desejo antigo que vibra forte em meu peito, mas foi apenas agora que decidi tomar coragem para começar.
Tenho o desejo de eternizar num livro as minhas vivências, experiências e conhecimento e sinto que isso vem de uma vontade ardente de descolonizar o conhecimento. Afinal de contas, numa sociedade patriarcal de supremacia branca, quem é que tem o direito de fala?
Obviamente, não são as jovens mulheres negras e periféricas.
Dese modo, escrever se tornou um ato político para transgredir. Quando escrevo, não sou colocada como a Outra, como diz Grada Kilomba, mas sou eu própria. Deixo de ser objeto e começo a me tornar sujeito. Passo a ser a responsável por descrever a minha própria história, e não aquele que é descrita. Me torno a narradora e a escritora da minha própria realidade, a autora e a autoridade na minha existência, eu me torno a oposição absoluta daquilo que o projeto colonial predeterminou!
“Por que escrevo? Porque eu tenho de. Porque minha voz, em todos seus dialetos, tem sido calada por muito tempo.” (Jacob Sam-La Rose)
Você já ouviu falar na máscara de silenciamento?
A máscara de silenciamento era composta por um pedaço de metal colocado no interior da boca do sujeito negro, instalado entre a língua e o maxilar e fixado por detrás da cabeça por duas cordas, uma em torno do queixo e a outra em torno do nariz e da testa. Oficialmente, a máscara era usada pelos senhores brancos para evitar que africanas/os escravizadas/os comessem cana-de-açúcar ou cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função era implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de silenciamento e de tortura. Neste sentido, a máscara representa o colonialismo como um todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de silenciamento das/os chamadas/os “Outras/os”: Quem pode falar? O que acontece quando falamos? E sobre o que podemos falar? (Grada Kilomba)
Pesadíssimo, né?
Parece que o silenciamento do sujeito negro é a forma que o sujeito branco encontrou para silenciar oque ele teme ver em si próprio: o ladrão violento, bandido indolente, subjugador de territórios. Esses são aspectos desonrosos, que quando evidenciados no comportamento do colonizador, causa extrema ansiedade, culpa e vergonha.
Tipos de racismo
De acordo com Grada Kilomba, a combinação de preconceito com poder forma o racismo mantido pela supremacia branca. Desse modo, o racismo não é um problema pessoal, mas é um problema branco estrutural e institucional que as pessoas negras experienciam.
O racismo se dá em três níveis:
- Racismo estrutural: o racismo é revelado em um nível estrutural, pois pessoas negras não estão na maioria das estruturas sociais e políticas. Estruturas oficiais operam de uma maneira que privilegia manifestadamente seus sujeitos brancos, colocando membros de outros grupos racializados em uma desvantagem visível, fora das estruturas dominantes.
- Racismo institucional: o racismo institucional enfatiza que o racismo não é apenas um fenômeno ideológico, mas também institucionalizado. O termo se refere a um padrão de tratamento desigual nas operações cotidianas tais como em sistemas e agendas educativas, mercados de trabalho, justiça criminal, etc. O racismo institucional opera de tal forma que coloca os sujeitos brancos em clara vantagem em relação a outros grupos racializados.
- Racismo cotidiano: o racismo cotidiano refere-se a todo vocabulário, discursos, imagens, gestos, ações e olhares que colocam o sujeito negronão só como “Outra/o” — a diferença contra a qual o sujeito branco é medido — mas também como Outridade, isto é, como a personificação dos aspectos reprimidos na sociedade branca.
Essas diversas manifestações de racismo, coloca as pessoas negras de volta nas cenas de um passado colonial, numa tentativa constante de colonizar os nossos corpos. No entanto, quando decidimos falar e romper com as opressões sistêmicas, somos colocados na caixinha dos estereótipos, lidos como primitivos (selvagens/incivilizados), agressivos (violentos/ameaçadores) ou infantis (crianças que precisam ser tuteladas, geralmente por um sujeito branco — o senhor ou senhora).
Está na hora de romper com esses padrões de opressão!
A promoção de narrativas racistas, mesmo que de forma insconciente, mantêm a invisibilidade das pessoas negras nos debates acadêmicos, políticos e sociais. O racismo não é apenas o ato de insultar o negro, mas ele também se manifesta nas entrelinhas, quando somos silenciados, orprimidos e marginalizados.
A real é que estou cansada de ouvir que falar de racismo é coida de “gente mimezenta e vitimista”. Esse tipo de deslegitamação é apenas uma estratégia para silenciar nossas vozes, querendo calar as pessoas que estão prontas para falar.
Muitas vezes não consigo falar, por isso escrevo. O meu escrever se tornou o meu dizer, pois ao contrário das palavras faladas, as palavras impressas não podem ser apagadas e nem silenciadas.
Curtiu o texto? Deixe suas palminhas, clicando até 50 vezes. Aproveite para me seguir no Instagram, no Tiktok e no LinkedIn :)
Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.