Mapeamento Participativo na Brasilândia

Projeto desenvolvido pelo Instituto Perifa Sustentável com o apoio do Instituto Pólis, Alma Preta Jornalismo, Comunidades Vivas e Universidade de São Paulo (USP).

Amanda da Cruz Costa
4 min readNov 12, 2022
  • Elaborado por: Carolina Carvalho
  • Colaboração: Matheus Pereira Santos

Foi realizada uma atividade de mapeamento participativo no bairro da Brasilândia, como parte do evento “Diálogos sobre Desigualdades Socioambientais: Paralelos entre Injustiça e Racismo Ambiental (Brasil-Estados Unidos)”, no dia 22 de outubro, das 14:00 até as 17:30.

O evento foi viabilizado pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, pelo Instituto Pólis e Instituto Perifa Sustentável. O objetivo desta atividade foi engajar moradores locais para que eles dialogassem sobre os principais problemas sociais e ambientais que sofrem no seu dia a dia no bairro, e mais do que apontar problemas, que trouxessem também soluções e novas idéias.

O mapeamento participativo tem por objetivo tornar visível o conhecimento local, através do processo de diálogo e de construção de mapas com elementos conhecidos pelos participantes. Assim, este relatório traz os mapas básicos gerados na atividade e as principais falas dos participantes no evento sobre o bairro da Brasilândia.

Os mapas foram gerados manualmente e digitalizados posteriormente com o software QuantumGIS.

Figura 01: Mapa básico com todos os elementos mapeados pelos participantes (pontos positivos e pontos negativos do bairro)

Elaborado por Carolina Carvalho (Comunidades Vivas — Mapeamento Participativo )

Durante a apresentação dos participantes, a facilitadora Carolina Carvalho solicitou que eles comentassem sobre o bairro, dificuldades e demandas necessárias, mas também aspectos positivos e potenciais. Assim, foi possível agrupar as informações em dois mapas, um contendo um diagnóstico geral e as dificuldades/demandas, e outro mapa contendo propostas.

Mapa diagnóstico/demandas

Foi relatado pelos participantes os seguintes pontos chave que representam as dificuldades e as demandas dos habitantes da Brasilândia, de acordo com a Figura 02.

Figura 02: Mapa de demandas e necessidades do bairro

Elaborado por Carolina Carvalho (Comunidades Vivas — Mapeamento Participativo )
  • “Pobreza” de projetos sociais: são necessárias mais ofertas de cursos para jovens, falta de oportunidades e capacitação profissional.
  • Moradias precárias (exemplo: Favela Icarai)
  • Falta de pesquisa por demandas locais para planejar cursos (exemplo: CEDESP)
  • Poucas opções de lazer
  • Desapropriações no Jardim Paraná
  • Falta de médicos (os médicos existentes estão sobrecarregados). Superlotação de hospitais, baixo efetivo medico e desvalorizado, tratamento médico diferente para quem mora na periferia (a pandemia escancarou problema)
  • Violência e sensação de insegurança
  • Barragem de Perus requer atenção
  • Saneamento precário, com descarte irregular de resíduos, inclusive em espaços públicos como praças. O lixo e entulho limitam acessos e possibilidades no bairro.
  • Esgoto à céu aberto
  • Alagamentos (exemplo: Jardim Damasceno)
  • falta de equipamentos públicos
  • Falta de opções culturais (é necessário se deslocar para a região central da cidade)
  • Evasão escolar (“educação é um desafio”)
  • Falta de parques e verde urbano, e os que existem estão mal cuidados
  • Uso de drogas
  • Transporte precário e inacessível, que interfere em possíveis parcerias entre instituições (“transporte não é feito com base na realidade”)
  • Periferia invisibilizada
  • Moradia precária em morro e encostas
  • As periferias não são iguais. São necessárias políticas específicas.
  • Presença de rios poluídos (exemplo: o córrego local)
  • Não existe a sensação de pertencimento e não há engajamento
  • Pode ser necessário um afastamento do estereótipo periférico para ter mais liberdade
  • Racismo e desigualdade
  • Distanciamento e exclusão social e geográfica (para os moradores, é preciso fazer o movimento em direção ao centro, para oportunidades)

Mapa de propostas

Para o mapa de propostas, não foram inseridos pontos em locais exatos, mas sim sugeridas possíveis áreas que poderiam receber equipamentos e implementações de novos projetos (Figura 03).

Figura 03: Mapa de propostas para a região da Brasilândia

Elaborado por Carolina Carvalho (Comunidades Vivas — Mapeamento Participativo )

Como exemplo, foi sugerida uma região específica para ser um polo científico, inclusive para gestão de resíduos (e implementação de mais ecopontos). No entorno da Praça Marielle foi sugerida a implementação de áreas verdes urbanas e a remoção do entulho existente e políticas para a violência existente no local). Em outro local, próximo ao terminal Vila Cachoeirinha, foi sugerida uma área que é considerada adequada para escolas e capacitação profissional.

Foi também sugerida uma área específica para opções de lazer e cultura (região da Rua Bernardo de Vera), e coleta de lixo mais eficiente na região do CEU Paulistano.

As ONG’s são vistas como elementos positivos e que contribuem para o desenvolvimento local, como por exemplo, combatendo a fome e acolhendo a população. Foi discutida a necessidade de se levantar propostas reais feitas pela população local. Foi sugerida também a possibilidade de se realizar um mapeamento da violência do bairro.

Comentários finais

Este é um relatório preliminar baseado em um evento único, de duração de 3 horas. São recomendadas atividades de validação dos elementos mapeados junto aos participantes e facilitadores, sendo necessárias mais horas de atividades e reuniões. Também é possível a elaboração de mapas com mais dados (pré-existentes), que podem configurar análises mais aprofundadas e embasar políticas mais efetivas.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável