Mapeamento Participativo na Brasilândia
Projeto desenvolvido pelo Instituto Perifa Sustentável com o apoio do Instituto Pólis, Alma Preta Jornalismo, Comunidades Vivas e Universidade de São Paulo (USP).
- Elaborado por: Carolina Carvalho
- Colaboração: Matheus Pereira Santos
Foi realizada uma atividade de mapeamento participativo no bairro da Brasilândia, como parte do evento “Diálogos sobre Desigualdades Socioambientais: Paralelos entre Injustiça e Racismo Ambiental (Brasil-Estados Unidos)”, no dia 22 de outubro, das 14:00 até as 17:30.
O evento foi viabilizado pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, pelo Instituto Pólis e Instituto Perifa Sustentável. O objetivo desta atividade foi engajar moradores locais para que eles dialogassem sobre os principais problemas sociais e ambientais que sofrem no seu dia a dia no bairro, e mais do que apontar problemas, que trouxessem também soluções e novas idéias.
O mapeamento participativo tem por objetivo tornar visível o conhecimento local, através do processo de diálogo e de construção de mapas com elementos conhecidos pelos participantes. Assim, este relatório traz os mapas básicos gerados na atividade e as principais falas dos participantes no evento sobre o bairro da Brasilândia.
Os mapas foram gerados manualmente e digitalizados posteriormente com o software QuantumGIS.
Figura 01: Mapa básico com todos os elementos mapeados pelos participantes (pontos positivos e pontos negativos do bairro)
Durante a apresentação dos participantes, a facilitadora Carolina Carvalho solicitou que eles comentassem sobre o bairro, dificuldades e demandas necessárias, mas também aspectos positivos e potenciais. Assim, foi possível agrupar as informações em dois mapas, um contendo um diagnóstico geral e as dificuldades/demandas, e outro mapa contendo propostas.
Mapa diagnóstico/demandas
Foi relatado pelos participantes os seguintes pontos chave que representam as dificuldades e as demandas dos habitantes da Brasilândia, de acordo com a Figura 02.
Figura 02: Mapa de demandas e necessidades do bairro
- “Pobreza” de projetos sociais: são necessárias mais ofertas de cursos para jovens, falta de oportunidades e capacitação profissional.
- Moradias precárias (exemplo: Favela Icarai)
- Falta de pesquisa por demandas locais para planejar cursos (exemplo: CEDESP)
- Poucas opções de lazer
- Desapropriações no Jardim Paraná
- Falta de médicos (os médicos existentes estão sobrecarregados). Superlotação de hospitais, baixo efetivo medico e desvalorizado, tratamento médico diferente para quem mora na periferia (a pandemia escancarou problema)
- Violência e sensação de insegurança
- Barragem de Perus requer atenção
- Saneamento precário, com descarte irregular de resíduos, inclusive em espaços públicos como praças. O lixo e entulho limitam acessos e possibilidades no bairro.
- Esgoto à céu aberto
- Alagamentos (exemplo: Jardim Damasceno)
- falta de equipamentos públicos
- Falta de opções culturais (é necessário se deslocar para a região central da cidade)
- Evasão escolar (“educação é um desafio”)
- Falta de parques e verde urbano, e os que existem estão mal cuidados
- Uso de drogas
- Transporte precário e inacessível, que interfere em possíveis parcerias entre instituições (“transporte não é feito com base na realidade”)
- Periferia invisibilizada
- Moradia precária em morro e encostas
- As periferias não são iguais. São necessárias políticas específicas.
- Presença de rios poluídos (exemplo: o córrego local)
- Não existe a sensação de pertencimento e não há engajamento
- Pode ser necessário um afastamento do estereótipo periférico para ter mais liberdade
- Racismo e desigualdade
- Distanciamento e exclusão social e geográfica (para os moradores, é preciso fazer o movimento em direção ao centro, para oportunidades)
Mapa de propostas
Para o mapa de propostas, não foram inseridos pontos em locais exatos, mas sim sugeridas possíveis áreas que poderiam receber equipamentos e implementações de novos projetos (Figura 03).
Figura 03: Mapa de propostas para a região da Brasilândia
Como exemplo, foi sugerida uma região específica para ser um polo científico, inclusive para gestão de resíduos (e implementação de mais ecopontos). No entorno da Praça Marielle foi sugerida a implementação de áreas verdes urbanas e a remoção do entulho existente e políticas para a violência existente no local). Em outro local, próximo ao terminal Vila Cachoeirinha, foi sugerida uma área que é considerada adequada para escolas e capacitação profissional.
Foi também sugerida uma área específica para opções de lazer e cultura (região da Rua Bernardo de Vera), e coleta de lixo mais eficiente na região do CEU Paulistano.
As ONG’s são vistas como elementos positivos e que contribuem para o desenvolvimento local, como por exemplo, combatendo a fome e acolhendo a população. Foi discutida a necessidade de se levantar propostas reais feitas pela população local. Foi sugerida também a possibilidade de se realizar um mapeamento da violência do bairro.
Comentários finais
Este é um relatório preliminar baseado em um evento único, de duração de 3 horas. São recomendadas atividades de validação dos elementos mapeados junto aos participantes e facilitadores, sendo necessárias mais horas de atividades e reuniões. Também é possível a elaboração de mapas com mais dados (pré-existentes), que podem configurar análises mais aprofundadas e embasar políticas mais efetivas.