Dei o primeiro passo para me tornar uma pesquisadora acadêmica

Fui aprovada como aluna especial da USP, na disciplina de Estado, Mudança Social e Participação Política

Amanda da Cruz Costa
6 min readMar 16, 2024

Olá minha lindeza climática ❤

Tenho uma novidade bem lindona para compartilhar contigo: decidi me matricular como aluna especial da Universidade de São Paulo! Nos próximos meses, vou aprofundar meus conhecimentos sobre o papel do Estado nos temas de racismo ambiental e justiça climática e estou super animada para compartilhar contigo esse processo.

Além de ativista, também quero produzir conhecimento dentro da academia, que ainda é um lugar embranquecido, elitista e masculinizado. Desse modo, estudarei uma disciplina chamada Estado, Mudança Social e Participação Política, do professor Dennis de Oliveira. De acordo com o professor, essa disciplina tem dois objetivos principais:

  • Discutir a relação do Estado com movimentos sociais
  • Diferenciar políticas de Estado e políticas de Governo

Minha primeira aula aconteceu nesta quarta-feira (13/03) e o Prof Dennis deu início a essa jornada fazendo uma contextualização sobre a ordem política democrática, que vem sofrendo inúmeros questionamentos tanto no Brasil quanto no mundo.

“A ordem democrática mal foi consolidada e já está sendo golpeada.” (Prof Dennis de Oliveira)

Para entendermos essa rolezão, é essencial relacionarmos a ordem política com a ordem econômica, entendendo que o arranjo político se constitui com o objetivo de possibilitar a ampliação das riquezas.

Crescimento da extrema direita

O crescimento da extrema direita é uma consequência de como a economia e a política foram sendo organizadas, abrindo espaços para questionamentos da lógica da democracia liberal. O avanço dos direitos sociais possibilitou a ampliação de algumas brechas no mercado consumidor de grupos marginalizados, através da inserção de grupos minoritários tanto em espaços de diálogo quanto em alguns poucos espaços de tomada de decisão.

Nesse sentido, houve um descontentamento daqueles que antes, protagonizaram esse lugar. Após a Revolução Industrial e a intensificação do êxodo rural, a família patriarcal branca agropecuária (que antes estava no topo da pirâmide), precisa lidar com o rearranjo e a inserção de novos atores.

De lá pra cá, várias transformações aconteceram e o Estado segue sendo pressionado, tanto pelo campo progressista, que reivindica mais transformações, quanto pelos conservadores, que desejam voltar para a antiga lógica social. Conferências globais acontecem, com o intuito de ampliar o diálogo e chegar em proposições comuns para os países.

Mas quer saber a real?

Essas conferências podem até ser uma zona de pressão, mas elas não mudam o Estado. Atualmente, o debate político está profundamente esvaziado, há um esvaziamento cada vez maior entre governo e política. Consequentemente, as decisões que afetam a vida da população são constantemente direcionadas para as iniciativas privadas.

Com isso, o capital utiliza de ações sociopolíticas da maneira que o interessa. Um exemplo é a intensificação do fenômeno de Uberização, que estabelece uma forma de trabalho que não estava prevista na legislação brasileira (motoristas de aplicativo de corrida, entregadores de comida etc).

Querida leitora, é aí que o VRAU acontece: a questão sociopolítica está se tornando um debate do mercado privado!

E qual é o grupo que hoje ocupa o topo da cadeia de produção e consumo? O homem branco insatisfeito com a nova ordem social que eu expliquei lá no começo do artigo! Com isso, a frustração patriarcal da extrema direita acaba virando uma agenda da política institucional!

Complexo, né? *o*

“Esclarecimento é uma condição SINE QUA NON para chegar a uma condição de autonomia.” (Immanuel Kant)

Com todos esses desafios, eu te pergunto minha cara leitora:

Que tipo de pactuação política a gente cria para normalizar a lógica comum?

A lógica racional presente é uma lógica punitiva, a qual fortalece a condição humana de auto repreensão e autocontrole. Nos anos 60, a Crise do Capitalismo, decorrente da crise do petróleo, da crise da superprodução (transição do modelo Fordismo para o Toyotismo) e da necessidade de um mercado consumidor, alterou a lógica de consumo/produção e consequentemente, influenciou diretamente a política e a economia.

O Toyotismo desencadeou um novo modelo de produção, o Just in Time (Apenas na Hora), produzindo os bens na mesma velocidade das demandas de consumo. Houve o fim dos estoques, a redução para o mínimo consumo e a produção apenas quando há demanda. Apesar da nova ordem ter trazido diversas vantagens, ela veio acompanhada de alguns desafios, como a jornada de trabalho e a remuneração que não poderiam ser mais fixas, e sim flexíveis.

Desse modo, a globalização do capital implicou numa convergência de tempo, investimento e demanda, saindo do Estado e passando para as grandes corporações. Esse fato caracteriza o mundo Pós-Moderno, no qual há uma apropriação capitalista para ampliar o campo político de discussões ao que, antigamente, estava restrito apenas ao campo estatal. Como exemplo, trago a agenda de diversidade. Essa agenda foi construída a partir da crítica ao capitalismo, mas foi apropriada pelo próprio capital e resultou numa batalha de narrativas.

“É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.” (Mark Fisher)

E por mais que um montão de gente fale que o capitalismo é o melhor modelo econômico que a nossa sociedade encontrou e blá-blá-blá, preciso trazer o papo reto: ele fomenta um neoliberalismo maluco que não comporta toda a humanidade. De acordo com um estudo da Global Footprint Network, se o mundo consumisse como a classe média dos Estados Unidos, a gente precisaria de 4 planetas. Só é possível ainda viver na Terra porque as relações de produção e consumo são profundamente desiguais!

E sabe o que é pior?

A classe média baixa, que hoje é a classe emergente, é a mais reacionária de todas. Fomos submetidos a uma lógica produtiva que fomenta a ideia de competição e disputa, trazendo a busca pelo sucesso a qualquer custo…

“Hoje não é mais a disciplina da fábrica que direciona a nossa capacidade produtiva, mas a disciplina do auto-controle. Num mundo pós-moderno, não tem mais uma câmera te vigiando, mas somos controlados pela cultura da alta-performance, bom desempenho e as metas inalcançáveis que o capital estabelece.” (Dennis de Oliveira)

E adivinha só? Essa é a lógica dos empreendedores.

Mas será que tem saída?

Pode parecer desesperador, fomos submetidos a uma cultura que tira nosso fôlego, nos adoece e nos deixa extremamente cansados. Mas não podemos sucumbir, precisamos encontrar alternativas e aderir a movimentos de contracultura.

É necessário desenvolver uma nova ordem social e descolonizar nossas relações, nosso trabalho e o nosso lazer. Não dá mais para permitir que até o nosso momento de ócio, divertimento e descanso sirva os valores do capital.

O meu processo para ir me desamarrando desse sistema foi buscar conhecimento. Tive apenas uma aula com o prof Dennis e a minha cabeça já está assim: 🤯🤯🤯. Vou compartilhando contigo, lindeza climática, meus processos de aprendizado, reflexão e aprofundamento teórico. Bora descolonizar juntinhas! ❤

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Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável