Como me tornei Visitante Diplomática da União Europeia
Os bastidores do convite que me levou a Bruxelas para representar o Brasil no EUVP 2025.
Olá minha lindeza climática ❤
Quando penso que a minha já está super “wowwww”, vem um plot-twist-duplo-carpado para me mostrar que ainda tem muito mais para ser vivido! Agora estou no Brasil, escrevendo esse texto na tranquilidade do meu quarto e no aconchego do meu lar. No entanto, vivi uma das semanas mais doidas da minha vida no começo deste mês *o*!
Tudo começou com um e-mail misterioso no finalzinho do ano passado. De acordo com o remetente, meu trabalho como ativista e pesquisadora climática tinha chamado a atenção da embaixadora da UE no Brasil, e ela gostaria de me indicar para um programa de diplomacia destinado para lideranças, diplomatas e políticos.
Eu respondi dizendo que estava honrada e que aceitaria a oportunidade. Logo em seguida, me pediram para mandar meu currículo, escrever uma carta de intenção e preencher um documento para compartilhar meus interesses pessoais e profissionais, sugerindo instituições da União Europeia que eu gostaria de conhecer.
Depois de alguns meses, recebi o retorno dizendo que minha inscrição foi aprovada e que em breve eu receberia o contato do meu mentor do programa. Após alguns dias Kristiyan Dimitrov, Programme Organiser do European Union Visitors Programme Unit, entrou em contato comigo e sugeriu que marcássemos uma reunião. Topei na hora e combinamos uma chamada de vídeo.
Na nossa conversa, Kris me explicou sobre o programa e disse que todos estavam muito admirados com meu trabalho a nível local, nacional e internacional. De acordo com ele, eu era a liderança que a UE estava buscando! Esse programa convida líderes globais e profissionais influentes ao redor do mundo para uma visita diplomática em Bruxelas, com o intuito de
- Conhecer de perto as instituições da UE (Parlamento Europeu, Comissão Europeia, Conselho, etc.);
- Debater políticas públicas europeias com especialistas e tomadores de decisão;
- Estabelecer conexões com parlamentares, diplomatas e técnicos da UE;
- Compreender como funciona o processo decisório da União Europeia.
Para participar é necessário ser indicado por uma Delegação da UE ou Escritório de Ligação do Parlamento Europeu. Em seguida, o candidato passa por uma avaliação pela delegação local e por fim, um comitê em Bruxelas, composto por representantes do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia, seleciona os finalistas.
Eu achei chiquérrimo! 💅🏾
Meu programa foi totalmente custeado pela UE (passagens, hospedagem e diárias) e durou uma semaninha. Tive encontros com diplomatas, parlamentares, técnicos do governo, diretores de think tanks e pessoas influentes do bloco.
No primeiro dia, houve a abertura oficial e conheci os demais participantes. No meu grupo, foram escolhidos 8 profissionais de diferentes países: Estados Unidos, Reino Unido, Israel, Palestina, África do Sul, Nepal, Timor-Leste e Brasil. Após as introduções iniciais, nos deram um IPAD com internet, nossa agenda da semana e falaram: “Boa-sorte, divirtam-se e façam bons contatos 😂”
Esse é um programa auto-gerido, no qual o participante é o principal responsável por chegar nas reuniões no horário (e isso inclui descobrir o prédio certo de forma totalmente autônoma rs), preparar o tópico dos encontros e estabelecer os encaminhamentos de cada conversa.
Confesso que senti um friozinho na barriga. Aquele meme “eu só tenho 6 anos” sempre se manifesta quando estou vivenciando momentos de completa autonomia, independência e liberdade, principalmente durante viagens para visitas diplomáticas megaaa importantes KKKKKK. Mas apesar das minhas preocupações, no final deu tudo certo e fiquei orgulhosa de mim mesma! Consegui chegar em TODAS as reuniões no horário (aprendi que “be on time is to be 10 minutes earlier = Chegar no horário é chegar 10 minutos mais cedo), preparei as agendas dos encontros, fiz perguntas estratégicas e sai com algumas propostas de parcerias entre o Instituto Perifa Sustentável e a Delegação da União Europeia para a COP 30 — Belém, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente.
Todos os dias eu acordava cedinho e me preparava para os encontros. Basicamente, eu
- Estudava o background da pessoa que eu ia me encontrar, procurava pontos de conexão/curiosidade sobre sua trajetória e fazia perguntas leves para quebrar o gelo e gerar um climinha amistoso logo no início da conversa.
- Visitava o site da organização, lia algumas matérias e preparava perguntas relacionadas aos interesses do Instituto Perifa Sustentável e por fim, eu
- Sugeria encaminhamentos que beneficiaram ambas as partes.
Deu um trabalhão rs! Mas peguei o jeito rápido e nos últimos dias o papo ficou natural, fluido, dinâmico, leve e até mesmo divertido (com convites para almoço e cafés depois do trabalho, para continuar o papo rs). Foi muito bom me ver nesta posição, percebi como meu inglês melhorou muuuuito e me senti poderosíssimaaaaa, conduzindo todas essas reuniões importantes em inglês, pautando os interesses do Perifa com essa galera massa e construindo pontes que vão desde o local até o global.
Você deve estar curiosíssima, então aqui estão alguns dos meus encontros:
- Sari Kouvo — Policy Officer and Adviser on Climate, Environment and Security, European External Action Service (EEAS)
2. Pär Holmgren — Eurodeputado do partido The Greens/EFA no Parlamento Europeu
3. Elisa Roller — Diretora do Twin Transition, Economic and Social Affairs, Comissão Europeia
4. Chiara Antonelli — Head of Programme, Climate and Circular Economy, Institute for European Environmental Policy (IEEP)
5. Representantes do Comitê de Meio Ambiente, Clima e Segurança Alimentar, Parlamento Europeu
6. Annalisa Corrado — Eurodeputada, integrante da comitiva da COP30
7. Dr. Peter Hefele — Diretor de Políticas, Wilfried Martens Centre for European Studies
8. Representantes do Climate Action Research and Tracking Service (CART): Gregor Erbach, Max Sarel e Charlotte Hourdin
9. Delara Burkhardt — Eurodeputada e articuladora da audiência sobre violência de gênero
10. Hans Rhein e Bernd Decker — Head of Unit e Head of Sector, CINEA (European Climate, Infrastructure and Environment Executive Agency)
11. Representantes da DG CLIMA — Directorate-General for Climate Action, Comissão Europeia
12. Brooke Moore — Analista política do European Policy Centre (EPC)
13. Dora Barreira — Policy Officer no Comitê de Meio Ambiente, Clima e Segurança Alimentar, Parlamento Europeu
14. Olivia Gippner — Membro do gabinete do Comissário Wopke Hoekstra, responsável por Ação Climática da UE
15. Bruno Julien-Malvy — Chefe da Seção de Comércio e Economia para América do Sul, Delegação da UE em Singapura
16. Anthony Agotha — Embaixador-at-large e Enviado Especial para Clima e Meio Ambiente, EEAS
17. Benedita da Silva e Daiana Santos — Deputadas brasileiras em comitiva internacional contra a violência de género
Foi massa demais viver essa experiência! Entendi que estamos num momento chave da história, onde disputas ideológicas estão cada vez mais intensas. Há cerca de cinco anos, a agenda climática, de direitos humanos e de desenvolvimento sustentável eram prioridades na UE. Foi nesse período que milhares de jovens foram para as ruas nas Greves Climáticas, o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) foi criado e havia uma forte intencionalidade para o fortalecimento do multilateralismo e dos organismos internacionais. No entanto, o cenário mudou. Enfrentamos uma pandemia global (COVID-19), países entraram em guerra (Russia X Ucrânia / Israel X Palestina), os EUA impôs uma série de medidas tarifárias ao redor do mundo e há mais estímulos à competição e ao protecionismo do que a colaboração e políticas de fronteiras abertas.
Ouvi em diversas reuniões que a Europa dormiu por muitos anos. O velho continente esqueceu de investir em segurança, defesa, energia e agora precisa correr contra o tempo… Com os parlamentares que conversei, suas estratégias de mandato é segurar a agenda ambiental proposta com o New Green Deal o máximo que conseguirem, para evitar que essas propostas não sejam desmanteladas.
Após as eleições de 2024, o Parlamento Europeu apresentou uma composição significativamente inclinada à direita, sendo considerado o mais conservador de sua história (52%). Sem sombra de dúvida, essa nova configuração parlamentar influenciará as políticas da União Europeia, principalmente em relação às migrações (possível endurecimento das regras de imigração), agenda ambiental (revisão ou desaceleração de iniciativas como o Pacto Ecológico Europeu) e integração europeia (aumento do ceticismo em relação à centralização de poderes na UE).
Pois é, gata garota climática, tempos desafiadores nos aguardam. O que está em disputa são perspectivas de mundo e ideologias! Enquanto os EUA prega a competição, riqueza e individualismo, a Europa luta para mostrar que a colaboração, diminuição de desigualdades e integração econômica são respostas mais eficazes para os desafios complexos e problemas sistêmicos que nos atravessam, como a crise climática, geopolítica e democrática; avanço tecnológico sem regulação ética e aumento da desinformação e fake news.
Por essa nem o futuro esperava… Por isso que me senti tão grata em participar do EUVP, ter a oportunidade de fazer trocas globais e lutar por uma agenda de cooperação global. O mundo está mudando e cada um de nós tem a possibilidade de ser parte desta nova realidade, influenciando uma nova ordem mundial a partir das nossas escolhas individuais, coletivas e políticas.
Por isso, minha querida leitora, eu te pergunto:
Que tipo de liderança você quer ser diante dos desafios que o mundo enfrenta?
O futuro é agora — e começa com as nossas escolhas. 🌍
Ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU e fundadora do Instituto Perifa Sustentável, Amanda Costa é formada em Relações Internacionais e atua como Jovem Consultora do British Council (Climate Skills e #90YouthVoices) e Visitanye Diplomática dos EUA (IVLP — International Visitor Leadership Program) e da União Europeia (EUVP — European Union Visitors Programme). Reconhecida pela Forbes como uma das jovens líderes Under 30, é TEDx Speaker, LinkedIn Top Voice e Creator. Participou de seis Conferências da ONU sobre Mudanças Climáticas (COPs): COP 23 (Alemanha), COP 24 (Polônia), COP 26 (Reino Unido), COP 27 (Egito), COP 28 (Emirados Árabes) e COP 29 (Azerbaijão) e em 2024, foi painelista no BRICS Green Cities Forum, em Moscou — Rússia. Em 2025, integrou o Columbia Women’s Leadership Network, programa da Columbia University (EUA) que reúne lideranças femininas com destaque no cenário global.