Amigos brancos, por favor se letrem!!!

Amanda da Cruz Costa
4 min readMar 14, 2024

Esse final de semana fiz um curso de desenvolvimento pessoal com o Gerônimo Theml, um coach de produtividade que eu admiro muito.

Eu sei, falar sobre o universo do coach pode ser complicado… São tantas discursos sobre meritocracia, esforço individual e “mindset” que o tema pode se tornar sufocante.

Mas apesar dos pesares, eu gosto do Gerônimo. Ele tem consciência de raça, classe e se coloca num lugar de eterno aprendiz, que é algo admirável para mim. Mas enfim, bora falar sobre o título do artigo?

Participei do WA, treinamento de três dias do Gerônimo, com um amigo querido, que também está interessado nessa temática. Mas olha, confesso que alguns momentos foram bem desafiadores e sufocantes. No último dia eu disse, com o maior carinho do mundo:

Amigo, eu vou te falar isso de coração aberto, por que sou sua amiga. Algumas de suas falas reproduzem o racismo. Mas eu sei que você não é racista, pois conheço seu coração. No entanto, é importante que você se letre racialmente.

Ele escutou de forma atenta, mas acredito que não tenha realmente compreendido o que eu disse. Disse que acha que esse papo de se letrar não faz sentido, que a filosofia que rege a vida dele é o amor.

Por ser da área ambiental, eu tenho váriosssss amigos brancos abraçadores de árvore, mas que precisam, urgentemente, de letramento racial!

Não me leve a mal, eu também gostaria que o mundo fosse só amor. Que as pessoas não tivesse maldade e exercitassem a empatia de forma constante. Mas não é assim que as coisas funcionam… Numa sociedade estruturalmente racista e machista, pessoas brancas precisam olhar e reconhecer seus privilégios.

No meio da conversa, perguntei quantas autoras negras esse amigo tinha lido. Ele respondeu:

Confesso que preciso ler mais, só conheço Djamila.

Papo vai, papo vem, decido entrar num campo mais profundo, perguntando quantas mulheres negras ele já tinha se relacionado. Ele disse:

Só duas.

Eu perguntei:

E quanto tempo durou?

Ele respondeu:

Foi pouco, elas eram doidas. Extremamente ciumentas e possessivas.

Então eu disse:

Você já ouviu falar da solidão da mulher negra?

Ele concluiu:

Não. Mas não acho que isso tem algo a ver com raça, acho que é uma questão de insegurança mesmo. Já me relacionei com uma mulher japonesa que tinha o mesmo comportamento. Isso é questão de personalidade, não tem nada a ver com a cor da pele.

Querida leitora, nesse momento eu fiquei assim: 🥵🤯🫣🫠😵‍💫🥴

E sabe de uma coisa? Eu percebi que não queria mais argumentar, pois nada do que eu dissesse naquele momento iria ser, realmente, considerado. Ele ainda tentou continuar a conversa, falando que tudo é amor, que as pessoas precisam ter mais empatia e que o que muda, é a forma como enxergamos o mundo.

Eu concordo com isso, de verdade!!! Mas não dá para a gente entrar no mundo Mágico de Alice e achar que a vida é regida apenas pelos sentimentos bons das pessoas felizes que fazem treinamento de produtividade. Existe racismo, machismo e toda uma estrutura social que influencia diversos marcadores.

E não sou eu, enquanto mulher negra, que tenho que pegar na mão dos meus amigos brancos e ensinar essa realidade. É necessário letramento racial, escutar pessoas negras com o coração aberto e estar disposto a desconstruir alguns pré-conceitos.

Aos meus amigos negros que estão em espaços embranquecidos, entrego um abraço carinhoso.

Aos meus amigos brancos que estão na jornada de auto-desenvolvimento, peço que se letrem racialmente, por favor. Dói escutar as coisas que escutei esse final de semana, é pesado e violento. Se vocês desejam nutrir relações profundas com pessoas negras, estudem, leiam e busquem entender os atravessamentos que passam pelos nossos corpos e pelas nossas vidas.

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Amanda Costa é ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e apresentadora do #TemClimaParaIsso?, um programa sobre crise climática. Formada em Relações Internacionais, Amanda foi reconhecida como #Under30 na revista Forbes, TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices e Creator e em 2021 foi vice-curadora do Global Shapers, a comunidade de jovens do Fórum Econômico Mundial.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável