Alma sobrevivente
Sou Cristã. Apesar da igreja.
Estamos no setembro amarelo, mês da consciência em relação à saúde mental. Desse modo, decidi utilizar esse tempo para compartilhar uma das coisas que mais me deixam triste, vem comigo bb!
Os meus últimos meses foram doloridos, mas também foram essenciais para o meu crescimento em Cristo. Quando o meu mundo começou a desmoronar, encontrei socorro, acalento e colo nos braços do Eterno.
Mas quero ser honesta contigo, meu caro leitor: alguns posicionamentos da igreja me incomodam! Ver meus irmãos na fé apoiando Bolsonaro, julgando a Priscila Alcantara por cantar musica secular e dizendo que Jotta A vai queimar no fogo do inferno por se declarar homossexual são coisas que me fazem questionar se estou no lugar certo.
O Jesus que eu encontro na Bíblia não sustenta um discurso de ódio e exclusão! Muito pelo contrário, ele foi chamado de beberrão e comerrão (ou seja, amava um rolê), era o cara que fazia jet com as prostitutas (olhe a história de Maria Madalena) e se divertia com os cobradores de impostos, considerados a escória da época (ao invés de se hospedar na casa de grandes líderes religiosos, Jesus optou pela casa de Zaqueu, um famoso cobrador de impostos).
“Quando os outros clamavam por vingança, ele apelava pelo amor e pelo perdão.” (Philip Yancey)
Em contraste com esse Jesus, encontro uma hipocrisia que atravessa o século XXI: pastores ultra conservadores fundamentalistas de extrema direita, que desejam ditar o que é certo ou errado, julgam quem está ao lado de Deus ou de Satanás, escolhem quem vai para o céu ou inferno.
Preguiça, né?
Não estou questionando a legitimidade espiritual dessa galera, longe disso. Apenas quero compartilhar que muitas vezes, a igreja me cansa.
Mas a vida continua, não é mesmo? Ainda não sou uma ermitona do Tibete que pode passar o dia meditando numa busca incansável pelo divino (mas bem que eu queria, viu? Um ano sabático longe dessa realidade caótica seria tuuuudo para mim rs).
Foi no meio desse turbilhão que me deparei com algo que transformou a minha vida, o livro Alma Sobrevivente, do jornalista cristão Philip Yancey. Quem me indicou essa preciosidade foi a minha professora de inglês, a Teacher Maíra, logo após eu finalizar uma apresentação sobre Climate and Faith.
Ter contato com essa leitura me trouxe um mix de sentimentos: compreensão, frustração, alegria, raiva, felicidade, ira, injustiça, esperança, fé… Esse livro me fez ter a certeza de que Deus é bom, mas seus representantes estão vacilando muitooooo!
Nessa obra, o autor compartilha a história de grandes líderes que marcaram sua geração: ativistas, mobilizadores sociais, empreendedores, evangelistas, médicos, políticos, escritores… E sabe o que é WOWWW? As pessoas que mais se destacaram foram aquelas que desafiaram o status quo, quebraram a lógica dominante e apresentaram uma luta fundamentada no amor!
“O ódio e a armadura jamais poderão curar a doença do medo; só o amor pode fazer isso. O ódio paralisa a vida; o amor a liberta. O ódio confunde a vida; o amor a harmoniza.” (Marthin Luther King)
Mas pera, vamos com calma. Reflita comigo, caro leitor:
- Como retribuir em amor quando alguém é escroto com você? Quando uma pessoa te maltrata, fala perversidades pelas suas costas e faz de tudo para te levar à ruína?
Marthin Luther King encontrou essa resposta, ele teve coerência entre narrativa e prática! Esse ativista foi surrado, caluniado, injustiçado e devolveu todo ódio em amor. Em certo momento de sua militância, ele declarou: “Alguém que quebra uma lei injusta deve fazê-lo de maneira aberta, amorosa e com disposição para aceitar as consequências.”
A postura de King me fez refletir sobre o meu ativismo, pois percebi que não tenho que lutar com armas, mas com graça. Posso atacar a violência com a não violência e o ódio com o amor. Conhecer parte da história desse grande líder pelos olhos de Philip constrangeu a minha alma!
Acha que estou exagerando? Reflita nessa citação:
“Meu objetivo não é derrotar os brancos, mas despertar um senso de vergonha dentro do opressor e desafiar seu falso senso de superioridade […]. O fim disso tudo é a reconciliação; o fim e a redenção; o fim é a criação de uma comunidade amorosa”. (Martin Luther King)
Isso é taaaaao profundo!
O próprio autor, Philip Yancey, declarou que foi uma pessoa racista, acreditou na segregação e apoiou causas contra a população negra, reproduzidas muitas vezes dentro dos espaços religiosos!
Ainda bem que Deus não nos ama não por aquilo que somos, mas por aquilo que Ele é. Estou diariamente aprendendo a perdoar e a pedir perdão, me deleito na infinita graça e conheço um Deus que transborda misericórdia, paz e bondade, mas não se alegra com as injustiças do presente século!
Para amar a Deus de todo o meu coração, tive que me amar e amar o próximo. Depois disso, parei de procurar o Eterno no sobrenatural e passei a encontrá-lo no comum: naquilo que me faz sorrir ou chorar; lembrar ou esquecer; no despertar, no dormir e acima de tudo, no sonhar! Deus está em todos os lugares, mas eu precisei aprender a escutá-lo :)
“Aprendi que no coração do universo pode-se achar um sorriso.” (Philip Yancey)
Viver dessa maneira é gostoso, intenso e requer coragem. Às vezes me sinto a pessoa mais liberal no meio de conservadores: sou ativista e luto contra as diversas opressões sociais, como o machismo, racismo e as desigualdades causadas pelo sistema capitalista heteronormativo de supremcia branca! No entanto, também sou apaixonada por Jesus, acredito na salvação do Eterno e vivo para trazer o Reino de Deus para a Terra.
Peço muita sabedoria para Deus, desejo que ele me ensine a ter um temor do qual eu não tenha medo. Quero trazer meus amigos para a igreja e quero ser a igreja para meus amigos, influenciando o mundo em AMOR!
Eu estou cansada do ódio, de ver meus líderes espirituais defendendo Bolsonaro e sustentando o discurso que ele carrega: a chacota com a utilização de máscaras, a liberalização do uso de armas, o desmonte de políticas públicas de proteção ambiental e o constante ataque contra a população LGBTQIA+.
Cadê os filhos de Deus que receberam palavras proféticas para governar o Brasil e influenciar a as nações? Eu, enquanto jovem embaixadora da ONU, sei que somos piada no cenário internacional!
E sabe de uma coisa? Eu não vou aceitar viver um evangelho apenas de conferências, arrepios e promessas vazias, mas quero ser a resposta para o que esse mundo tanto precisa: o AMOR DE CRISTO!
Parei de perguntar “Deus não está vendo o sofrimento do mundo?” e comecei a questionar “onde está a igreja levando a cura para o mundo?”
Apenas observe. Lembre-se de Jesus. E se posicione.
Por muito tempo eu vivi com medo de falar as coisas que estavam no meu coração, pois como mulher cristã, acreditava que teria que obedecer tudo o que os meus pastores diziam, como uma prova de obediência ao próprio Deus.
No entanto, desde que desenvolvi um relacionamento intimo com Jesus e passei a receber mensagens diretamente do Eterno, entendi que o meu papel na Terra é questionar.
Questionar os padrões do mundo, questionar os padrões da igreja e CRIAR uma realidade divina nos espaços que eu ocupo!
Comecei a escrever abertamente sobre a minha fé e concluí que só tenho uma coisa a oferecer: a sinceridade. Escrever é um processo no qual encontro a essência de quem vive dentro de mim, uma forma de autodescobrimento para ter coragem de me jogar numa jornada cujo destino final é desconhecido.
“Ouça sua vida, veja-a como o insondável mistério que ela é.” (Frederick Buechner)
Conforme escrevo, encontro Jesus em meu coração! “O que nos faz humanos não é nossa mente, mas nosso coração; não nossa habilidade de pensar, mas a nossa capacidade de amar.” (Philip Yancey)
Oro para que o amor de Deus inunde seu coração, meu querido leitor ❤
Amanda Costa é ativista climática, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no G20 Youth Summit e em 2021 entrou para a lista #Under30 da revista Forbes. Formada em Relações Internacionais, Amanda empreende o PerifaSustentavel, atua como vice-curadora da comunidade Global Shapers (WEF), é colunista da Agência Jovem de Notícias e do Um só Planeta.