A impotência da raça negra não tira proveito da fraqueza dos brancos

Uma reflexão sobre o livro do prof João Elias

Amanda da Cruz Costa
4 min readOct 23, 2024

Olá minha lindeza climática! =)

Há alguns meses conclui a leitura do livro “A impotência da raça negra não tira proveito da fraqueza dos brancos”, do meu professor João Elias.

Comecei a fazer aulas sobre Formação de Consciência Racial com o Prof João em 2022, alguns meses depois que comecei a ser assessorada pela Egnalda Cortes, de Cortes e Companhia. Na época, havíamos perdido uma viagem a trabalho com a META para o México, para desenvolver uma campanha para o Facebook e eu fiquei extremamente arrasada!

Do nosso lado, faltou uma rapidez para responder os emails (eles tinham iniciado as comunicações numa quinta-feira e a viagem seria cerca de 2 semanas) e do lado deles, faltou enviar o contrato.

Para mim, que estava entrando no universo da criação de conteúdo, esse parecia ser o trabalho dos sonhos! Viajar para outro país com o intuito de desenvolver uma campanha publicitária para outros ativistas para falar sobre a importância de defender uma causa?

Uauuuu, só de lembrar já fico animada rs

Massssss, meu olhar miope de quem ainda não tinha a consciência racial necessária para ler as entrelinhas das conversas me cegou… Quando ficou nítido que perdemos essa “oportunidade”, meu mundo desabou! Chorei horrores e libriana dramática que sou, me permitir vivenciar toda aquela dor.

Após o ocorrido, conversei com a Egnalda e compartilhei meus sentimentos. Ela acolheu, mas disse que precisávamos acelerar meu processo de consciência racial. Segundo ela, eu havia crescido muito rápido e ainda não tinha dado tempo para desenvolver a maturidade necessária para ocupar os lugares que eu estava. Isso é real: num ano eu não era ninguém, no outro viro Jovem Embaixadora da ONU, Forbes Under 30 e Capa da Revista Época Negócios (saiba mais aqui — como me tornei jovem embaixadora da ONU).

Egnalda me disse que eu precisaria aprender o não-dito, detectar comportamentos racistas e aprender a me proteger. Desse modo, me indicou o prof João Elias e me pediu para abraçar todo o conhecimento que esse mestre maravilhoso poderia oferecer.

O prof João Elias é uma das maiores referências do ativismo racial no Brasil. Ele iniciou em 1982, como um lobo solitário. Em 2008 conheceu o MNU — Movimento Negro Unificado e em 2025 passou a atuar pela OPN — Organizacao Política de Libertacao do Povo Negro. Agora, aposentando, sua missão é formar novas lideranças para continuarem a luta, através do “Curso Básico de Formação de Consciência Racial.”

Lembro da nossa primeira aula, na qual o Prof João me disse:

"Amanda, lembra bem de quem você é hoje. Por que depois do curso, sua mente vai mudar e você nunca mais será a mesma."

Naquele momento, eu não entendia muito bem as suas palavras e simplesmente concordava. Mas hoje posso perceber a profundidade que é o processo de desenvolvimento racial. Se eu pudesse resumir em poucas palavras, diria que antes do curso eu era boba, ingênua, até um pouco meritocrática. Eu tinha um pouquinho de consciência racial, sabia que era uma mulher negra jovem e estava sujeita ao racismo. Mas agora, após três anos de formação, não tenho medo de dizer que sou uma eterna aprendiz. Hoje estou mais consciente, consigo sentir o cheiro do racismo de longe e me posicionar.

Óbvio que esse processo não aconteceu da noite para o dia, é uma jornada que envolve o curso, terapia, leituras, conversas e muitaaaa vivência. Quanto mais eu aprendo, mais quero mergulhar nesse assunto e me abrir para esse conhecimento! Apesar de doloroso, ele também é um escudo e uma arma. Afinal de contas, já dizia a minha mãe:

Conhecimento liberta! (Gisleide dos Santos Cruz)

Querida leitora, quero finalizar nossa conversa com um convite: leia o livro do prof João! Ele é breve, provocativo e muito necessário. Tenho certeza que ele será um chacoalhão que te provocará a investigar o racismo brasileiro. Só quando temos consciência das nossas amarras é que podemos escolher soltá-las.

Veja um trechinho da obra:

(…) percebemos uma espécie de equilíbrio social esdrúxulo, como se fosse uma gangorra onde o negro precisa estar em baixo para que o branco permanece em cima. (João Elias)

Ativista climática, jovem conselheira do Pacto Global da ONU e fundadora do Instituto Perifa Sustentável. Amanda Costa é formada em Relações Internacionais, é Embaixadora Cultural dos EUA (IVLP — International Valuable Leadership Program) e Jovem Consultora do British Consul (Climate Skills e #90YouhVoices — UK). Reconhecida como #Under30 na revista Forbes, é TEDx Speaker, LinkedIn Top Voices, LinkedIn Creator e já participou de 5 conferências oficiais das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, sendo elas COP 23 — Bonn (Alemanha), COP 24 — Katowice (Polônia), COP 26 — Glasglow (UK), COP 27 — Sharm El Sheik (Egito), COP 28 — Dubai (Emirados Árabes). Em 2024, Amanda foi a delegadada brasileira convidada pelo governo de Moscow para participar do BRICS Green Cities Forum, em Moscow — Rússia.

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Amanda da Cruz Costa

#ForbesUnder 30 | Conselheira Jovem da ONU | Dir. Executiva do Perifa Sustentável